Vinícius
Fruscalso Maciel de Oliveira¹
Companheiros:
é com muita satisfação que lhes escrevo este texto para falar
sobre o IX EIV Santa Maria – RS, que foi realizado entre os dias 01
e 22 de fevereiro de 2012, em áreas de assentamentos do MST no
estado do Rio Grande do Sul. Quem organiza o estágio é uma comissão
formada por acadêmicos da UFSM e que se renova a cada ano, assim
como os estagiários (que não precisam ser necessariamente
estudantes da UFSM). O estágio sempre é dividido em três períodos:
preparação, vivência e avaliação.
A parte da
preparação teve início no dia 02/02 e término dia 06/02. Nessa
primeira etapa aconteceu uma preparação “teórica”, na qual
foi-se abordado temas como: estrutura da sociedade capitalista,
questão agrária, questão indígena, questão quilombola, gênero,
modelos de desenvolvimento entre outros através de filmes, debates,
palestras e místicas. Tudo isso para os estagiários entenderem o
que é o MST, quais suas bandeiras, suas complexidades, suas
contradições e acima de tudo para entendermos como funciona a
sociedade em que vivemos. Certamente sem essa preparação o EIV
ficaria incompleto e com uma certa ausência de sentido. O estagiário
precisa saber exatamente o que está fazendo ali.
As
vivências começaram dia 08/02 e terminaram dia 16/02. Nesse
período, cada estágiário ficou em um assentamento diferente, em
diferentes cidades do estado do RS. Fiquei na cidade de Candiota, no
sul do estado e tomei um choque de realidade: somente em Candiota
existem 27 assentamentos, o que ilustra bem o tamanho da desigualdade
de terras da região Sul do Estado. Cada família Sem-Terra possui
aproximadamente 20 hectares de terra e poucas possuem implementos
agrícolas que atendam as suas necessidades. A maioria dos
agricultores possuem vínculo com a Bionatur, que é uma cooperativa
de sementes agroecológicas.
Percebi em
grande parte dos assentados uma espécie de “germe” de
comunismo/anarquismo inconsciente, através de frases como: “Aqui a
gente se governa”, “Aqui se tem liberdade”, “Sou meu próprio
patrão”. E um apego à terra conquistada impressionante que gerava
frases como “Só saio daqui dentro de um caixão”. Além de um
sentimento de orgulho muito grande de ser protagonista da própria
história, de ter lutado e conseguido melhorar de vida. Mas é claro
que nem tudo são rosas, e existem muitos problemas nos quatro
assentamentos que visitei em Candiota. Porém, o que me espantou foi
a tranquilidade dos assentados para falar sobre os problemas. Fazem
questão de contar a quem é de fora do assentamento. Os problemas
mais citados foram a questão da falta de estrutura na parte da
saúde, falta de crédito para financiamento da safra e de
implementos agrícolas, arrendamentos de terra por uma minoria dos
assentados e descaso dos governos para com os assentados.
A avaliação
iniciou dia 18/02 e encerrou dia 21/02. Nesse tempo, foi socializado
as vivências de cada um dos estagiários, para se retirar algum tipo
de encaminhamento/conclusão. Além disso, foram tratados temas como
desafios da reforma agrária, sociedade e universidade, juventude,
movimento estudantil. Também realizou-se no último dia (21/02) uma
visita a um acampamento do MST na cidade de Julio de Castilhos, na
qual infelizmente não pude estar presente.
Viu-se
claramente um amadurecimento teórico/intelectual de todos os
estagiários, mas principalmente daqueles que não eram acadêmicos
de cursos ditos “humanos”. Para aqueles que nomes como Marx,
Hegel, Engels, Kropotkin assim como conceitos como mais-valia,
dialética e força de trabalho eram desconhecidos. E essa mudança
tem desdobramentos práticos como a valorização do trabalho
coletivo, respeito ao próximo, preocupação com o bem-estar social,
entre outros. Enfim, pode-se afirmar que o Estágio Interdisciplinar
de Vivência muda a vida dos estagiários e sua visão de mundo. E é
transformando as pessoas e unindo-as que se revoluciona a realidade.
¹Acadêmico do curso de Licenciatura
em História pela UFFS – Campus Erechim. vinimisura@gmail.com
Grande Vinão, que baita experiência você teve meu camarada(prometo-lhe que neste ano tentarei ao máximo participar também). Admiro sua vontade em sentir na pele um pouco do que nossos camaradas do campo passam cotidianamente, ao passo que nós, na cidade,"universitários" com uns discursos "revolucionários", mantemos nossas bundas sentadas todos os dias nas cadeiras dando-a uma forma achatada e, muitas vezes nos achamos os "grandes pensadores", falamos e pensamos em revolução, e mantemos uma noção de realidade passada pela mídia. Só que na realidade, nem ao menos fazemos noção do que eles passam em seu dia á dia. Experiências como essas que você teve, são essenciais para realmente se conceber e lutar por outro modelo de sociedade, por outras sociabilidades. Em meio a nossas teorias, muitas vezes não enxergamos que pessoas possam estar vivendo-as sem ao menos jamais terem ouvido sobre tal, como você mesmo apresentou. É por isso, e muito mais, que devemos buscar estreitar os laços entre universidade e sociedade civil, a fim de formar um único "ser".
ResponderExcluirGrande Abraço Vinão.
OUSAR LUTAR!
OUSAR VENCER!