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quarta-feira, 28 de maio de 2014

NOTA PÚBLICA:

Sobre os desdobramentos do conflito fundiário e indígena em Faxinalzinho/RS


Diante do grave impasse que está ocorrendo em nossa região desde o grave incidente envolvendo indígenas Kaingang e agricultores, que resultou, lamentavelmente, na morte de duas pessoas no dia 28 de abril, queremos expressar nosso pesar e solidariedade ao luto das famílias envolvidas nesse conflito. Nos sensibilizamos com as mortes desses dois jovens, mas devemos nos questionar também sobre a exclusão social e as mortes diretas e indiretas de milhares de indígenas Kaingang e Guaranis vitimados pelos interesses econômicos e políticos de particulares e do próprio Estado no Rio Grande do Sul.

No entanto, este problema não é só local e não começou no dia 28 de abril, não começou na omissão do atual governo do PT e nem nas mal arranjadas demarcações de terras nos anos de 1990, durante o governo de PSDB. Essa é uma questão secular e que se fosse levada a sério demandaria não só uma reforma contundente nas chamadas políticas indigenistas, mas fundamentalmente nos critérios de acesso à cidadania para os povos indígenas, que passa necessariamente, pelo acesso à terra a esses e a todos os demais oprimidos do campo (quilombolas, sem-terras e pequenos agricultores), ou seja, demandaria uma reforma agrária profunda e radical, como o Estado brasileiro se nega a realizar desde, pelo menos, a Lei de Terras 1850.

O Estado (representado pelas instâncias governamentais responsáveis, pela polícia federal e o poder judiciário) deve ser responsabilizado pela sua parte nesse confronto, pela sua omissão em resolver pacificamente o conflito instaurado em Faxinalzinho e arredores, e pela sua política de criminalizar a luta política/cultural de todo povo Kaingang, por conta de uma fatalidade isolada. 

Por fim, gostaríamos de dizer que em nossa Universidades temos alunos agricultores e indígenas. Que nossos alunos agricultores e indígenas são também vizinhos, e muitos, direta ou indiretamente, por vontade ou não, também são parentes entre si.  Muitos estão com medo da escalada de violência de ambos os lados. Enquanto professores, estudantes e pesquisadores, desejamos e lutamos para construir um mundo de, na falta de melhor palavra, tolerância e solidariedade entre todos, independentemente de cor, raça, credo, identidade política e sexual, mas na impossibilidade da construção desse mundo pela boa vontade e concórdia, e na inevitabilidade do conflito, que o conflito encontre um direcionamento não entre os de baixo, entre os explorados e marginalizados, não entre os pequenos, mas que seja canalizado para todos aqueles que se beneficiem com a reprodução das desigualdades, da exploração, da opressão e morte dos pequenos, sejam indígenas, negros ou brancos.

Nosso repúdio à traiçoeira prisão das lideranças Kaingang ocorrida em 09/05. Liberdade aos presos políticos indígenas!

Pela conclusão dos processos de demarcação das terras indígenas!

Por um justo reparo e indenização aos agricultores afetados pelas demarcações das terras indígenas!

Toda a solidariedade aos indígenas Kaingang e aos demais indígenas por sua luta por existir como povo!


Grupo de Pesquisas Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes (GPASE)
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) 


23 de maio de 2014

Debate: A questão indígena no Alto Uruguai


quinta-feira, 20 de março de 2014

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA - Crítica e Emancipação: promovendo espaços de formação política para trabalhadores sindicalizados e militantes de organizações populares

O GPASE inicia o primeiro semestre de 2014 com a realização do projeto Crítica e Emancipação: promovendo espaços de formação política para trabalhadores sindicalizados e militantes de organizações populares, uma ação de extensão piloto, com caráter de curso de formação política básico, voltado prioritariamente, ainda que não exclusivamente, para trabalhadores sindicalizados e militantes de movimentos sociais e populares com pouca experiência de vida político-organizativa e com perfil de escolaridade de nível fundamental e médio, tendo como principal objetivo promover a apropriação e (re)construção de formas de conhecimento crítico, emancipatório e plural, qualificando a atuação política e organizativa desses atores em (e a partir de) seus respectivos espaços de luta. Como curso de formação política, o projeto será desenvolvido ao longo do período de vigência do edital 518/UFFS/2013, e será organizado a partir de módulos temáticos, cada qual agrupando um conjunto de atividades caracterizadas como aulas e seminários de sínteses, coordenados por docentes da UFFS e colaboradores dos movimentos sindical e social. Como experiência formativa dialógica, o curso pretende se apoiar em orientações típicas da chamada educação popular, em suas vertentes freireana e libertária.

Este projeto nasceu de uma demanda “da rua”: do envolvimento de um grupo de professores e estudantes da UFFS na formação do Bloco de Lutas Populares (BLP) de Erechim, no contexto das grandes manifestações de junho de 2013. A participação do movimento sindical e estudantil da universidade junto com sindicatos e movimentos populares do município no contexto da luta pelo transporte público promoveu uma aproximação virtuosa entre tais setores e agrupações, permitindo o afloramento de afinidades e preocupações comuns. É sabido que nossa universidade promove em seu discurso fundacional sua origem como fruto de uma “demanda social” vocalizada por muitos dos movimentos sociais da região, articulados em torno da frente conhecida como “movimento pró-universidade”. Nesse sentido, alguns professores que transitaram por essa frente, ou mantinham vínculos com atores oriundos dela, realizaram ou ainda realizam atividades, em grande medida no campo da extensão, em parceria com os movimentos sociais ou tendo estes como seu público-alvo.

Entretanto, a proposta que aqui apresentamos, sem desmerecer as iniciativas anteriores ou próximas com tais antecedentes, surge mediante a orquestração de novas condições: o principal nucleamento que expressa aproximação entre setores da UFFS e dos movimentos sociais é de natureza organizativa e classista: professores identificados como trabalhadores da educação sindicalizados e atuantes nos cursos de graduação de Ciências Sociais e Geografia, além do Grupo de Pesquisas Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes, promovendo uma ação de extensão com trabalhadores e militantes sociais do município de Erechim.

Em diálogo com companheiros do BLP, surgiu a proposta de oferecermos através da UFFS um curso de formação política que pudesse qualificar a leitura crítica e atuação dos militantes de sindicatos e movimentos populares, possibilitando ao mesmo tempo o trânsito de atores da comunidade acadêmica entre os espaços dos movimentos sociais, bem como o inverso, além da apropriação dos conhecimentos e reflexões produzidos no âmbito da universidade pelos atores organizados nos movimentos sindicais e populares. Como processo de formação política, organizado pedagogicamente no formato de curso, pretende-se explorar um conjunto de reflexões e temas, em sintonia com a agenda de pesquisa do GPASE e com o repertório de determinadas disciplinas que compõem o quadro curricular dos cursos mencionados, os quais optamos por agrupar em 3 eixos: 1) Capitalismo e Salariato; 2) Estado e Relações de Poder; e 3) Interculturalidade.

Do ponto de vista acadêmico, além da circulação de atores entre ambos os espaços, o que contribui para localizar e contextualizar as diferentes leituras que podem ser produzidas sobre a realidade social, é importante ressaltar a possibilidade que se abre para a constituição, no âmbito das dinâmicas próprias da vida universitária, de campos de articulação sinergéticos que potencializem a emergência de uma efetiva ecologia de saberes, oxigenando não apenas as condições sob as quais se produz conhecimento, como também os domínios da ética e da prática política que orientam as ações e reflexões dos atores em relação.

SELEÇÃO DE BOLSISTAS

Entre os dias 21 a 26 de março estarão abertas as inscrições para bolsistas do projeto. Poderão se candidatar qualquer estudante de graduação da UFFS - Campus Erechim. As inscrição deverão ser realizadas na secretaria do Setor de Protocolos da UFFS, entre 9h e 21h (dias 21, 24 e 25/03) e entre 9h e 12h (dia 26/03).

Mais informações no edital disponível no link abaixo: 

https://docs.google.com/file/d/0BxfoEQoPulZFbHByUFJ4a0RnWVE/edit