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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Compartilhando Arquivos

Claudia Renata Capitanio
Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS – Campus Erechim
     Investigadora do Grupo de Pesquisa Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes (GPASE)

Durante os últimos meses alguns textos que fazem referência a Cartografia Social e ao Mapeamento Participativo foram selecionados e agora estamos disponibilizando este material para quem tiver interesse no assunto. Dentre os conteúdos dos arquivos encontram-se temas sobre cartografia crítica, disputas territoriais, povos tradicionais e também alguns exemplos de aplicação da metodologia do mapeamento participativo. Estes exemplos de aplicação foram retirados do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, uma iniciativa que tem por objetivo colaborar com a auto-cartografia de povos e comunidades tradicionais,possibilitando maior visibilidade destes povos e de sua cultura.


 1
Comunidade Quilombola de João Surá - Paraná. Nova cartografia Social dos povos e comunidades tradicionais do Brasil - Fascículo 02
http://www.novacartografiasocial.com/index.php?option=com_phocadownload&view=file&id=85:comunidade-quilombola-de-sao-sura-parana-&Itemid=64&start=50

2
Adolescente e Jovens Indígenas do Alto Rio Negro. Nova cartografia Social da Amazônia Crianças e Adolescentes em Comunidades Tradicionais da Amazônia - Fascículo 03 http://www.novacartografiasocial.com/index.php?option=com_phocadownload&view=file&id=82:adolescentes-e-jovens-indigenas-do-alto-rio-negro-&Itemid=64&start=50

3
Mapeamentos, identidades e territórios. Henri Acselrad - Capitulo de livro ACSELRAD, Henri. Cartografia social e dinâmicas territoriais: marcos para o debate. Rio de Janeiro: Editora A 4 Mãos Comunicação e Design Ltda, 2010.

4
Mulheres artesãs Indígenas e Ribeirinhas de Barcelos IN Nova cartografia Social da Amazônia - Fascículo 18 http://www.novacartografiasocial.com/index.php?option=com_phocadownload&view=file&id=19:18mulheres-artesas-indigenas-e-ribeirinhas-de-barcelos&Itemid=64

5
Mapeamentos participativos e atores transnacionais: a formação de identidades políticas para além do Estado e dos grupos étnicos. Maria Barroso Hoffmann - Capitulo de livro ACSELRAD, Henri, organizador. Cartografia social e dinâmicas territoriais: marcos para o debate. Rio de Janeiro: Editora A 4 Mãos Comunicação e Design Ltda, 2010.

6
A construção de uma Cartografia Geográfica Crítica. Eduardo Paulon Girardi - Artigo em revista https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:hadSt9upeDIJ:www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/download/2019/1918+GIRARDI,+Eduardo+Paulon.+A+constru%C3%A7%C3%A3o+de+uma+cartografia+geogr%C3%A1fica+cr%C3%ADtica.+Anais+EGAL+2011&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEEShVOF810vOD2vm-cqAO92jX4JuQ0GyYfL6lwzUDqUNtlNZiG04NcYbOZwXPsDmw9bE7Z2k9p0dbdpsRD6YfeO1lJpdGsTJTbzN7wBHLamHrovGBETULulTiJoMLRsShk4qWzG2z&sig=AHIEtbQPXT1gPuC-iN3kgb2LI8TONKUJ3w

7
Disputas cartográficas e disputas territoriais.  Henri Acselrad e Luis Régis Coli - Capítulo de livro https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:Pyj0BEmNZxwJ:www.ettern.ippur.ufrj.br/central_download.php%3Fhash%3D467ab838abf48499b7dbb9f41fa3268c%26id%3D8+Cartografias+Sociais+e+Territ%C3%B3rio+pdf&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESjQ9bMUg-oUHvjG29oEOgZ-chUcEb8F3Z2hJHZ2oDfUC767Y2706v0FUG2vUOuY8UKmW3N7xZKNq3L3y-1cFseQ7cZvhXBfMkUVioBQmdrkpTCnV2wL48wo-KFbopnfO11C4qFL&sig=AHIEtbSBFeSQZyequbqXmkYmt6mN3LMUtw

8
O poder de resposta: a Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais. Marina Eduarda Armstrong de Oliveira, Renato Alves Ribeiro Jr., Otávio Gomes Rocha, Thiago Vinícius de Almeida da Silva, Jorge Ramón Montenegro Gómez - Trabalho de pesquisa
https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:L7M065-PHwsJ:www.agb.org.br/evento/download.php%3FidTrabalho%3D3666+O+poder+de+resposta:+a+Cartografia+Social+dos+Povos+e+Comunidades+Tradicionais.&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESirTvZ1o5682CiJaa-8KI-SqdYruvMNLmIL-tDgsBGQbnsjWm1v_FxffTXf1Q7sQL8l1xS751pN5W4KVeLbpwLhW9_2n5Dl1jpXSYcsnCl0fkWo9o_t6H_i0IgWAech6sdwGK5r&sig=AHIEtbRVquHNN2SH7KDfGe5QVOypPB61YQ

9
Uma introdução à cartografia crítica. Jeremy W. Crampton, John Krygier - Capitulo de livro
https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:Pyj0BEmNZxwJ:www.ettern.ippur.ufrj.br/central_download.php%3Fhash%3D467ab838abf48499b7dbb9f41fa3268c%26id%3D8+Cartografias+Sociais+e+Territ%C3%B3rio+pdf&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESjQ9bMUg-oUHvjG29oEOgZ-chUcEb8F3Z2hJHZ2oDfUC767Y2706v0FUG2vUOuY8UKmW3N7xZKNq3L3y-1cFseQ7cZvhXBfMkUVioBQmdrkpTCnV2wL48wo-KFbopnfO11C4qFL&sig=AHIEtbSBFeSQZyequbqXmkYmt6mN3LMUtw

terça-feira, 2 de julho de 2013

Labirinto de espelhos: sobre anarquismo e lutas sociais


Por Cassio Brancaleone e Daniel de Bem
Professores do Curso de Ciências Sociais da UFFS
Investigadores do Grupo de Pesquisa Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes (GPASE)



A recente onda de mobilizações e protestos que tomou as ruas (e as redes sociais), supostamente desde a primeira quinzena de junho (e é importante apontar a sutil diferença entre o “início” efetivo desse processo e o início de sua exposição midiática) tem sido responsável por desencadear um verdadeiro sentimento generalizado de atonia e perplexidade entre boa parte daquele segmento da sociedade que convencionamos chamar por intelectualidade. O que é compreensível, afinal, “fomos” pegos de surpresa, convencidos que estávamos sobre o processo, para alguns dito até civilizatório, de consolidação das instituições da democracia liberal representativa entre nós, especialmente com o fortalecimento dos partidos políticos como “instâncias cívicas” que monopolizam os mecanismos de alocação de candidatos para cargos públicos. A impressão é que muita coisa está fora do lugar. Mas a pergunta deveria ser: em algum momento, estiveram as coisas no seu lugar?

Por ocasião da publicação do artigo “Depredando o Espelho” (edição do dia 26/06/2013 do jornal Bom Dia), de autoria do prof. Ernesto Cassol, nos sentimos instigados a problematizar para o/as leitore/as algumas questões ali apresentadas, em nossa modesta opinião, de forma um tanto pedestre e até mesmo preconceituosa. Em especial, iremos tecer algumas considerações sobre o anarquismo e seu papel nessas e outras mobilizações ocorridas em nosso país.   

Lamentamos que venha de um professor de história um tratamento sobre o anarquismo tão desrespeitoso, uniformizador e caricato perante a sua importância histórica e atual no seio das lutas populares no Brasil e no mundo. O anarquismo, cabe recordar, significa justamente o oposto de desordem, bagunça e outros impropérios que secularmente foi a ele associado por figuras à direita e à esquerda do espectro político. Anarquismo é uma filosofia política e uma expressão histórica do movimento operário (logo, um movimento social e popular) que preconiza a ordem e a (auto)organização no sentido mais sofisticado e democrático que se possa conceber. Nesse sentido, é sim um inimigo da atual ordem vigente, qual seja, a estatal e capitalista. Por isso a pecha de desordeiros, da qual, nesse sentido, só pode ser motivo de orgulho (diria Chico Science: “desorganizando para organizar, organizando para desorganizar”). Mas o prof. Cassol, infelizmente, reifica e reproduz os mais nocivos e perniciosos preconceitos disseminados pela ortodoxia marxista (sim, porque outras correntes marxistas tiveram a audácia crítica de ir além da cartilha leninista ou do chauvinismo socialdemocrático).

É certo que existe sim, um anarquismo individualista, dito como “estilo de vida”, e que não deve ser confundido com o anarquismo organizado, como movimento social e político, tanto quanto existe um sem número de marxistas que estão espalhados por nossa sociedade sem nenhuma vinculação às massas populares, como intelectuais diletantes em bares, empresários, juízes e reitores de universidades.

Há mais de um século o movimento anarquista, no sentido mais plural do termo, vem construindo e promovendo teorias e práticas de solidariedade, cooperação, apoio mútuo, feminismo, internacionalismo, classismo, horizontalidade e autogestão, combatendo as diversas formas de discriminação, opressão e violência (religiosa, étnica, de gênero, política, econômica, epistemológica, etc) no mundo todo e no Brasil. O movimento anarquista foi a primeira expressão organizada do movimento operário de massas no Brasil. Os anarquistas fundaram os primeiro sindicatos e associações mutualistas de trabalhadores país. Até a criação do Partido Comunista do Brasil foi obra de anarquistas, inebriados com a realização da Revolução Russa (não foi o que disse Sérgio Buarque de Hollanda?). Colonos que vieram ocupar a região do Alto Uruguai, pasmem, eram anarquistas (recordemos a memória de Elias Iltchenco, agricultor e colono de Erebango). A quem interessa esquecer seletivamente a nossa história?

O anarquismo, como filosofia política e movimento social organizado, é anticapitalista e anti-estatal. No primeiro caso por considerar a relação patrão e empregado, ou seja, o assalariamento, uma relação de exploração e escravidão. No segundo caso por considerar a relação governo e governado, ou seja, a existência do Estado como um corpo político separado da sociedade, como uma relação de dominação e escravidão. Por isso preconiza a autogestão e o autogoverno: a auto-organização dos trabalhadores no local de trabalho e no território por eles habitados. Não há nada mais preconceituoso e estúpido, portanto, que associar anarquismo a desordem ou baderna. A anarquia pretende ser, justamente, o seu oposto, e isso só é possível eliminando todas as instituições e relações sociais que reproduzam e naturalizam o privilégio que nasce da exploração e a dominação do homem pelo homem.

O que incomoda muito a esquerda organizada em partidos eleitorais, ou seja, que acredita ou aceita acriticamente a representação liberal e pretende portanto dirigir os trabalhadores através da gestão do Estado, supostamente a interesse da própria classe trabalhadora, é que os anarquistas defendem exatamente o oposto: organizar a classe trabalhadora, os desempregados, os camponeses, enfim, todos os oprimidos para que eles próprios sejam os responsáveis por sua emancipação, por sua libertação, e não uma vanguarda ou seus dirigentes. Mais, que esse processo tem que se dar de baixo para cima, e não de cima para baixo.

Por isso os anarquistas desconfiam de todos os representantes, e da lógica de todos os partidos eleitorais que apenas querem disputar o poder. Mas desconfiar da representação e negar o Estado não significa negar a existencia de pessoas que acreditam nos partidos e do papel do próprio Estado como instituição existente e que, na medida em que os trabalhadores foram capazes de pressioná-lo, garantiu a preservação de alguns direitos que são valiosíssimos para os trabalhadores. Os anarquistas são apartidários sim, mas em momento algum defenderam e aplicaram a violencia contra aqueles militantes, marxistas ou não, que se organizam nos partidos. Se há algo importante de destacar do espírito anárquico, entre outras coisas, é justamente a defesa de uma ação política anti-sectária. Os anarquistas compreenderam historicamente que, para alcançar seus objetivos, a liberdade com autonomia, igualdade, fraternidade, não podem reproduzir ações que endossem a intolerância e o obscurantismo político.

É incrível o desconhecimento (ou novamente, o preconceito) que o professor Cassol demonstra sobre o história da Guerra Civil espanhola. Mesmo intelectuais alinhados com marxismo reconhecem o papel importante jogado pelos anarquistas no processo de mobilização da luta contra o franquismo (George Orwell, por exemplo!). Nos fronts de batalha, estavam nas trincheiras, lado a lado com brigadistas internacionais das mais distintas matrizes políticas da esquerda. E foram o estalinismo do Partido Comunista Espanhol e a política de boicote seletivo da URSS os principais responsáveis pela vitória fascista na Espanha em 1939. Tal visão está à altura da ignorancia ou má fé disseminada pela governador gaúcho Tarso Genro (outro intelectual marxista), que em entrevista recente associou os atos de depretação e vandalismo ocorridos em Porto Alegre aos “anarquistas”, que supostamente comporiam o mesmo bloco de agitadores formado por fascistas, nacionalistas e gente infiltrada pela direita (certamente pela própria polícia)!

Na semana passada a sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG) foi invadida pela polícia federal. Os policiais entraram no espaço dessa entidade à paisana, armados e sem mandato judicial! É esse o Brasil dos direitos políticos e civis que construímos pós-ditadura? Atualmente existem no Brasil um número significativo de organizações e coletivos anarquistas. Terão eles o mesmo destino? Irão mandar prender daqui em diante as pessoas por porte de livro anarquista, depois do porte de vinagre nas manifestações? Depois dizem que os anarquistas e a extrema esquerda fazem o “jogo que a direita gosta”.... ora, o que vemos é exatamente o oposto: a esquerda eleitoral, partidária e hegemônica é quem faz o jogo que a direita gosta, não só se aliando e compondo secretarias e ministérios com ela, mas mandando prender e calar as vozes mais combativas e consequentes da sociedade civil e da classe trabalhadora.

Para finalizar: é certo que as mobilizações que desabrocharam no país recentemente não são fruto da ação da militância anarquista. Aliás, não são fruto da ação de nenhuma força política isolada. É justamente a coalização e cooperação, direta e indireta, voluntária e involuntária, de uma infinidade de militantes anônimos, anarquistas, marxistas, e especialmente gente que não tem nada a ver com uma coisa ou outra, mas certamente gente que não tem nada a ver também com a esquerda hegemônica e eleitoral, que tornou possível a “primavera brasileira”. Por isso a perplexidade da esquerda eleitoral hegemônica. Esse parece ser um fenômeno das lutas urbanas de médio e longo prazo, em especial das grandes cidades, que liberou energias represadas de setores sociais mesclados entre um “novo proletariado” e uma “ascendente classe média” e que apenas está começando a mostrar sinais do que pode representar e fazer para mudar esse país. Novas sociabilidades e outras compreensões sobre o que significa a relação governo e sociedade estão por emergir disso tudo. Por isso o anarquismo, como filosofia e prática política historicamente marginalizada, possui tanta afinidade com o que está aí e é muitas vezes evocado nos vários lados da “trincheira”.