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segunda-feira, 30 de abril de 2012


 RESSIGNIFICAÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DO TRABALHO E MORADIA DOS CATADORES DE MATERIAL RECICLÁVEL

Matildes Regina Pizzio Tomasi[1]

Rosana Scolari, em seu trabalho de dissertação de mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realiza uma pesquisa junto aos catadores de material reciclável dos bairros Cristo Rei e Progresso da cidade de Erechim, RS. Com o objetivo de verificar a importância da ressignificação da identidade através da participação da ARCAN.[2] E os benefícios que esta associação proporciona para uma população que se encontra a margem da sociedade local. Dentre as situações analisadas pela autora, estão às questões de uma inserção e adaptação a novas realidades, por isso, ela trabalha com conceitos de território, lugar, cotidiano, moradia, trabalho e economia solidária, que possibilitam satisfazer este conjunto como um todo. Esclarecendo o significado de desterritorialização, territorialidade, cidadania, exclusão/ inclusão social, solidariedade e identidade. E também a prática de uma economia solidaria, como forma de inclusão e alternativa, mediante a uma economia capitalista excludente. Utilizou para a realização deste trabalho, questionário com associados da ARCAN e também com catadores independestes, além de acompanhar de perto as atividades dos associados.

O trabalho da autora consiste em entender a reprodução de vida no cotidiano que expressa o interesse comum que organizou a associação dos catadores de Erechim, a ARCAN. Traçar um perfil e procurar entender quem são estas pessoas que sobrevivem do lixo, que compartilham sua cultura e pobreza. Compreender os paradigmas sociais, nos quais esta gente tão fragilizadas, que buscam a inserção e inclusão em uma sociedade que disfarçadamente a discrimina e dificulta sua ascensão. Analisar o espaço onde vivem estes catadores, observando o seu cotidiano e as relações que se desenvolvem nos locais de trabalho e habitacionais. Neste contexto que se realizam os processos de desterritorialização e consequentemente uma nova tentativa de readaptação em outra dimensão social e espacial. É quando surge esta organização de pessoas de diferentes grupos sociais, na busca de novos significados e alternativas na qual eles possam ser inseridos, à economia solidária.

No primeiro capítulo a autora trabalha com alguns conceitos que possam esclarecer e explicar realidades adversas e suas formas de reprodução. Explicando a importância que o trabalho, a moradia, o território e o lugar adquirem na vida das pessoas. Como elas se identificam com determinados espaços, e os significados que os mesmo representam. De como o sentimento de pertencimento a algo é significativo e norteador a o sujeito. A necessidade de inclusão e participação dignifica o ser humano. Assim como o trabalho e a moradia. A criação da ARCAN e o que ela representa na vida de seus associados.

No segundo capítulo a autora faz uma análise da agravação das dificuldades social no sistema capitalista. Onde classifica a economia solidária como alternativa viável de integrar a população excluída ao mercado de trabalho. Destaca que este tipo de empreendimento necessita estar sempre em competição com o mercado capitalista, o que se classifica como desvantagem ou menor oportunidade de prosperidade. Faz uma comparação entre economia solidaria e economia capitalista e destaca a eficiência do capitalismo em manter na economia a lógica da acumulação.

No terceiro capítulo ela trabalha a origem da ARCAN e as características de seus associados, dos que trabalham na triagem e os que coletam material reciclável nas ruas e também dos catadores independentes. Com destaque para a fragilidade da identidade de seus associados e a importância do trabalho que executam. Abordando as relações entre o poder público do município, os catadores e as empresas de reciclagem. E também o trabalho do Padre Dirceu Benicá como colaborador e mentor da ARCAN e do SEPO, por fornecer as bases teóricas da economia solidaria, com a realização de cursos com base na educação popular.

O quarto capítulo é uma abordagem sobre a moradia dos catadores, bem como as condições destas habitações e como elas se constituem ou como se realizaram a ocupação das mesmas. A solidariedade que acontece entre os catadores e como se desenvolve o sentimento de pertencimento a um determinado lugar ou território. E a participação do poder público municipal para melhorar as condições de saneamento e higiene nestes locais.

O último capítulo a autora exemplifica a sua teoria de que a ressignificação da identidade se realiza através de uma territorialidade e na qual o sujeito possa reconhecer-se como indivíduo e fazer parte deste quadro social,  ser aceito em determinada realidade e contexto.

A autora conclui que a ARCAN trouxe outra perspectiva e contribuiu para elevar a autoestima, assim como dignificou consideravelmente às relações entre os sujeitos sociais. Reescreveu a história dos catadores e melhorou suas condições de vida e pode integrar e absorver uma camada excluída da população erexinense. Que diante do processo de exclusão, eles se encontram em uma relação de alienação diante da realidade social da cidade de Erechim, pois só conseguem sentirem-se descontraídos a partir do momento em que atravessam a BR e se encontram em nos bairros Cristo Rei e Progresso. A crítica que ela faz é quando traça um paralelo entre a ARCAN e as empresas de reciclagem que existem na cidade, observa que a renda mensal das outras empresas e dos catadores independentes é maior que a da ARCAN, por isso ela diz que eles não são muito dedicados a o trabalho. Afirma também, que a solidariedade entre os catadores e a ajuda mútua são fatores determinantes para assegurar o mínimo de bem estar e atender suas necessidades básicas.





REFERÊNCIA:

SCOLARI, Rosana Mary Dela Torre. Ressignificação da identidade através do trabalho e moradias dos catadores de material reciclável da associação de recicladores cidadãos amigos da natureza do município de Erechim (RS). Porto Alegre: UFRGS, 2006.







[1] Acadêmica do 5º semestre do curso de Licenciatura em História da UFFS/Erechim. Mar. 2012.
[2] Associação dos Recicladores Cidadãos Amigos da Natureza.

sábado, 28 de abril de 2012

RESSURGIMENTO DO SINDICALISMO NO ALTO URUGUAI


 RESSURGIMENTO DO SINDICALISMO NO ALTO URUGUAI

Matildes Regina Pizzio Tomasi[1]

O quarto capítulo da obra de Anacleto Zanella[2] sobre o sindicalismo no alto Uruguai gaúcho, trata do ressurgimento a afirmação do sindicalismo regional no período de 1978 a 1990. Destaca que a causa principal deste ressurgimento é a conjuntura nacional com o enfraquecimento de o governo militar, causado por uma grande crise econômica, geradora de um alto índice inflacionário. O descontentamento do trabalhador diante de tais acontecimentos fortaleceu o sindicalismo, pois era a única forma de reivindicação disponível, tanto em nível nacional como regional. Assim como a forte influência da Igreja Católica progressista, responsável pela formação de lideranças sindicais.

O Autor inicia o capítulo trazendo um apanhado geral da situação econômica nacional, causadora de um arrocho salarial, contabilizando uma perda salarial de 34,1% em 1973. Que desencadeou no ressurgimento do movimento grevista a partir do ABC paulista em 1978, atingindo nível nacional até 1980. Mas as manifestações populares também exigiam algumas medidas no setor político, direcionando o país a uma redemocratização e fim do regime militar, sobretudo a partir de 1983 com a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que tinha o objetivo de unificar as forças sindicais, fazendo oposição a Central Geral dos Trabalhadores (CGT). Pois a CGT, antiga CONCLAT,[3] desenvolvia uma atividade conciliadora, enquanto que CUT tinha um perfil classista.

Na região do Alto Uruguai as mudanças que ocorreram no sindicalismo, se deram graças às ações da Igreja Católica Progressista, tanto no meio rural como no urbano, que coordenou diversos trabalhos no sentido de orientar os fiéis em busca de melhores condições de vida. Através das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs) e da Teologia da Libertação, que se fundamenta em três princípios: Ver, julgar e agir. Dentre as atividades da Igreja Católica estão vários desmembramentos, que abrangeram toda a região do Alto Uruguai, como: Comissão Pastoral da Terra (CPT); Pastoral da Juventude (PJ); Juventude Operária Católica (JOC); Pastoral Operária (PO); Curso de Assessoramento de Jovens (CAJO); Treinamento de Ação Pastoral (TAPA). A JOC e a ACO, Foram criadas em Erechim, na década de 70, por intermédio do Padre Adelar de David e da Irmã Deonilse Rovani. Além desses, outros grupos foram criados na região, como o Grupo Paulo VI, que deu origem à luta contra as barragens; Esquema Dois em Passo Fundo; Escola de Servidores que preparava lideranças comunitárias para toda a Diocese de Erechim, a esta escola pertenceu Ivar Pavan. E as CEBs que apoiaram movimentos regionais como a Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAL), de Mulheres Trabalhadoras Rurais e o MST.

Segundo o autor é neste período de surge um novo sindicalismo rural no Alto Uruguai no qual ele destaca três fatores determinantes: “a liberalização política vivida em todo o país, as mudanças estruturais na economia agrária do estado e seus impactos sociais e a ação de setores progressistas da Igreja Católica”. (Zanella, 2004, p. 201). Destaca também os problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais que eram: “os baixos preços dos produtos agrícolas, a falta de assistência médico-hospitalar, a falta de aposentadoria, a concentração de renda e das propriedades no campo e o êxodo rural.” (Zanella, 2004, p. 202). Observa que esta conjuntura social favoreceu o desenvolvimento de um novo sindicalismo, pois o velho sistema não atendia mais as necessidades dos trabalhadores rurais, por ser um sindicalismo de assistencialismo atrelado a o Estado.

Neste contexto surgem novos ideais com disputas entre “vermelhos” e “pelegos”.  Os “vermelhos” eram os sindicalistas ligados a CUT e os “pelegos” os ligados a Fetag. O autor descreve as disputas eleitorais entre ambos, com suas artimanhas políticas e a tomada do poder em cada sindicato na região, com a maioria de sindicatos liderados por setores ligados a CUT em 1990. O apoio da Igreja Católica progressista a os sindicalistas da CUT, e a celebração de uma missa pela posse da diretoria do STR de Erechim, na qual foi queimado um pelego simbolizando o fim do sindicalismo atrelado a o Estado.

O autor afirma que a predominância de lideres sindical vinculada a CUT beneficiou positivamente as ações do sindicalismo rural na região, Pois somarem-se as manifestações nacionais e se fortaleceram enquanto categoria. “Conquistaram direitos e foram reconhecidos como sujeitos no processo de desenvolvimento regional.” (Zanella, 2004,p.210). Participaram ativamente de lutas por:



·         política agrícola, com garantia de preço, crédito e seguro para a produção;

·         reforma agrária com direito à terra para quem quisesse nela trabalhar;

·         contra a construção de barragens no rio Uruguai;

·         a luta em torno da produção e venda do leite;

·         saúde pública, gratuita e de boa qualidade;

·         defesa do direito à aposentadoria e ao salário-maternidade;

·         a luta das mulheres trabalhadoras rurais pelo direito a sindicalização, ao talão de produtor, à documentação, bem como a igualdade de gênero;

·         eleições diretas para presidente da República”. (Zanella, 2004, p.210).



Com estas lutas frequentes o STR conseguiu comprar o hospital de Aratiba, que beneficiou os trabalhadores rurais locais. O que causou uma grande adesão ao movimento sindical regional, quando em março de 1987 o STR conseguiu reunir 12.000 agricultores no maior protesto da categoria, da década, em Erechim. Que motivou também os movimentos de mulheres trabalhadoras rurais, tais como o Movimento da Mulher Camponesa ligado a Fetag e a Organização das Mulheres da Roça, ligado a CUT, que em 1989 participou do processo de criação do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais.

Neste período também houve uma renovação no sindicalismo urbano, principalmente pela ação da Igreja Católica Progressista com atuação intensiva através das CEBs. Zanella destaca que o marco inicial desta mudança se deu com a paralização dos professores estaduais em abril de 1979 e a criação do núcleo regional de CPERS em junho do mesmo ano. Seguida da greve de trabalhadores nas indústrias de Construção Civil e Mobiliário (1979) sobretudo os funcionários da Indústria Madalozzo. E a greve dos bancários (1978/1979), na qual a categoria de Erechim acompanhou a paralização em assembleia, mas não entrou em greve. A partir de 1983 com a formação da CUT, começa a disseminar campanhas de adesão na região e as primeiras adesões a CUT são as do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, no qual Anacleto Zanella era integrante e do 15º Núcleo do CPERS.  Surge também a Equipe Sindical Urbana da CUT (ESUC) que resultou na formação de lideranças sindicais e apoiou a criação de novos sindicatos: Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Erechim e o Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde. Que se somaram as lutas sindicais urbanas regionais, que reivindicavam:

“[...] as campanhas salariais das diversas categorias de trabalhadores, o cumprimento de acordos coletivos de trabalho e da legislação trabalhista, a garantia do pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade, a manutenção a ampliação dos direitos sociais trabalhistas no processo constituinte, saúde pública, gratuita e de boa qualidade, direito a aposentadoria especial, melhoria e cumprimento do plano de carreira, melhores condições de trabalho, liberdade e autonomia sindical e eleições diretas para presidente da República.” (Zanella,2004, p.233).

Porém com número menor de greves no setor privado, em relação ao público, devido a o medo que o trabalhador tinha de perder o emprego, pois perderam a estabilidade durante o governo militar. E por serem empresas de pequeno e médio porte, favorecia a uma relação amistosa entre os funcionários e os empregadores. Portanto as maiores paralizações aconteceram durante as greves gerais.

O autor conclui com uma avaliação muito positiva a ação sindical regional deste período. No qual as influências da Igreja progressista e da CUT, favoreceram para intensificar e estimular a participação popular e libertar o sindicato do atrelamento ao Estado. Que resultaram em garantia de direito trabalhistas e melhorias nos setores previdenciários. Porém o que ele não conseguiu perceber foi que tanto a CUT como a Igreja progressista se apropriou da força sindical para disseminar sua doutrina, transformando o sindicado em um veículo para dominar os oprimidos. Não classificou como negativas as disputas sindicais pelo poder, que transformaram estes espaços em arenas de combate, e bases para seguir carreiras políticas. A doutrina católica impregnada na mentalidade do povo com tanta sutileza capaz reverter os princípios morais das comunidades locais. E por fim da aniquilação completa do verdadeiro sentido do sindicalismo, não deixaram nem resquícios dos valores anarquistas que criaram as bases sindicais.















Bibliografia:

ZANELLA, Anacleto. A trajetória do sindicalismo no Alto Uruguai gaúcho (1937-2003) Passo Fundo: UPF, 2004.





[1] Acadêmica do 5º semestre do curso de Licenciatura em História da UFFS/Erechim. Fev. 2012.
[2] Anacleto Zanella, mestre em História pela UPF. Foi presidente da CUT Alto Uruguai e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Erechim e Gaurama, além de Secretário em formação da CUT/RS. Vereador pelo PT em Erechim. Atualmente é Secretário da Educação em Erechim.
[3] Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora

sexta-feira, 27 de abril de 2012

EDUCAÇÃO POPULAR: UMA PROPOSTA DE RESISTÊNCIA?


A HISTÓRIA A AS AÇÕES EDUCATIVAS DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E POPULARES DA CIDADE DE ERECHIM / RS
Sian Carlos Alegre1 

Os autores iniciam o livro tratando da Educação Popular na América Latina, onde nasce sob uma pratica politica a serviço das classes populares, buscando outra forma de educação, não vista na escola. Assim, a Educação Popular tem a intenção de contribuir para formação de uma consciência politica, que faça com que as pessoas se libertem desta situação, e busquem sua autonomia. No Brasil, a Educação Popular chega como uma resposta ao desenvolvimento dos movimentos sociais. A parir de 1960, a Educação Popular pode ser vista em três momentos: Primeiramente a Educação popular como Alfabetização (década de 60); Segundo a Educação Popular como Consciência Política e Consciência de Classe (década de 70 e 80); Um terceiro momento é a Educação popular como Construtora de paradigmas e do Projeto Político (a partir da década de 90); A Educação popular passa a representar uma prática libertadora, que ajuda na conscientização da real situação de pobreza em que boa parte das pessoas se encontra. Segundo os autores, ela apresenta um esforço para mobilização e organização da população, o que a torna popular é a sua concepção de construção de sociedade. A Educação Popular caracteriza-se por: ser uma prática educativa a serviço da emancipação das classes populares; contribuir para a transformação da sociedade capitalista para uma que de voz as classes populares; educar para a democracia e ser uma ferramenta na organização das classes populares. São as organizações pesquisadas: Organização sindical, Cooperativismo, Movimento Social Popular e Entidades Populares. Organização Sindical Rural fundado em 1962 tem como proposição lutar pelos direitos dos pequenos e médios produtores rurais. Inicialmente mantinham um caráter assistencialista, mas a partir de 1980 inserem-se no novo sindicalismo, reorganizando sua atuação. Organiza-se em Assembléia geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria. Mantém relações com o movimento popular e outros sindicatos. Suas ações consistem em: prestação de serviço; lutas sociais e econômicas; experiência de produção alternativa nas pequenas comunidades; constante informação aos seus membros (programas de radio, boletim informativo); campanhas de sindicalização; organização de base. Para este sindicato a educação popular consiste em utilizar a sua realidade como princípio. Organização Sindical Urbana – sua fundação é resultado da articulação de trabalhadores de varias categorias. Sua finalidade de fundação é: congregação de trabalhadores, reivindicação e soma de forças populares; lutas por direitos sociais e interesses comuns. Segundo os autores, é possível ver três fases em sua história: Fase de Oposição Sindical (1979 a 1985); a Fase de Lutas (1986 a 1988); Fase de Consolidação (1989 aos dias atuais. Organizam-se em Assembléia Geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal, Diretoria e Diretoria Executiva. Suas relações compreendem: relação com a categoria; com a classe patronal; com outros sindicatos; com poder público; com o CEPO e com população em geral. Dentre as ações educativas, destaca-se: as lutas sócias e trabalhistas e a mudança estrutural da sociedade; a consciência do sindicato como instrumento de luta e a organização sindical na base. Para as Organizações Sindicais Urbanas o projeto de sociedade está baseado na justiça, igualdade, participação e na democracia. Cooperativismo as cooperativas surgem do princípio de cooperação e organização de todos os associados. As cooperativas estudas em Erechim foram a Cooperativa de Eletrificação rural do Alto Uruguai Ltda. – CRERAL, criada em 1969 e a Cooperativa dos Produtores Rurais do Alto Uruguai Ltda. – COPERAL, fundada em 1993. A CRERAL é criada para levar luz elétrica ás propriedades rurais e comunidades. Já a COPERAL, é fundada para estabelecer um novo modo de cooperativismo, buscado defender os direitos dos agricultores e suas necessidades mais primarias. Ambas as cooperativas organizam-se em Assembléia Geral, Conselho Fiscal e Administrativo. Estas se relacionam com o movimento popular e sindical, com o CEPO, CAPA e o CETAP. A CRERAL ainda mantém uma relação com o estado, a fim de negociar o custo da energia. A CRERAL desenvolve atividades como: conscientização sobre a atuação da Cooperativa e capacitação para formação de lideranças. Já a COPERAL, destaca-se: a discussão das linhas políticas e o modo de trabalho, através de assembléias regionais e municipais; reuniões nas comunidades rurais e a capacitação de lideranças. Para a CRERAL, a educação popular contribui para a pessoa ver a sua realidade tal qual ela é, consolidando-se no cotidiano. Já para a COPERAL, a educação popular é outra forma de educar, com uma proposta política administrativa econômica e social de educação. Para ambas as cooperativas, o modelo de sociedade baseia-se na democracia, justiça e igualdade, com justa distribuição de renda, se explorados e com trabalho para todos. Movimento Social Popular- Nesse item, os autores destacaram a Comissão Regional de Atingidos por Barragens – CRAB, criada em 1979, a União das Associações de Moradores de Erechim – UAME, fundada em 1990 e o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais – M.M.T.R/ Alto Uruguai, fundado em 1984. O CRAB inicia sua trajetória apenas com a prestação de serviços aos atingidos, posteriormente aumenta sua abrangência, incluindo todos os agricultores do Alto Uruguai. Trabalha com a formação de lideranças, reuniões nas comunidades e distribuição de boletins informativos. O M.M.T.R. inicia-se com apenas reivindicações, posteriormente busca a inserção da mulher trabalhadora rural nos espaços sociais e nas lutas sociais. Também passam a trabalhar questões de gênero e do processo educativo nas famílias, com intenção de inserir a mulher na administração da propriedade. A UAME inicia suas atividades com característica assistencial e cadastramento de famílias com problemas sócias e consequente visitados membros diretores. O CRAB organiza-se através de Assembléia geral, Coordenação Geral, Executiva Geral, Executivas Regionais e as Equipes de Trabalho. Já o M.M.T.R. divide-se em Assembléia Estadual, Direção e Executiva Estadual, Direção e Executiva Regional, Direção Executiva Municipal e grupo de Mulheres por Comunidade. O UAME está organizado em Assembléia Geral, Diretoria e Presidência das Associações de Moradores dos bairros. Entre as relações estabelecidas, o CRAB mantém com a ELETROSUL, Prefeitura Municipais e a população em geral. O M.M.T.R. mantém relações com o movimento sindical, a CRAB, igrejas, CEPO e uma relação de confrontamento com o poder público. Já a UAME, estabelece relações com a Prefeitura de Erechim, Associações de Moradores de Paulo Bento. Dentre as ações dos movimentos destaca-se, CRAB: Assembléias para estabelecer o dialogo com a ELETROSUL; mobilização no dia Nacional de Luta contra a Barragem,; acampamento e ocupação da sede de ELETROSUL e audiência com as autoridades. O M.M.T.R. desenvolve atividades como; programas de rádio, incentivar a documentação da s mulheres; campanha contra a violência e educação sexista; formação na área da saúde, política, sexualidade e afetividade; A UAME movimenta-se por: participação no Conselho Municipal de Saúde; legalização dos terrenos nos bairros; atendimento de urgência ante a catástrofes; auxilio a pessoas carentes, campanha do agasalho; melhoria na infra-estrutura dos bairros.O CRAB vê a educação popular como meio para a formação critica do sujeito e sua autonomia, a prática e a reflexão são a forma de buscá-la. Para o M.M.T.R. a educação popular vislumbra a realidade, buscando mudanças na própria relação familiar. Já para a UAME, a educação popular caracteriza-se pela humanização das pessoas e busca por seus direitos. O CRAB e o M.M.T.R. tem um projeto de sociedade socialista, pautado na justiça e democracia, para além dessas questões o M.M.T.R. busca uma alteração nas relações de gênero. A UAME afirma a necessidade de uma sociedade com diminuição da fome e sem crianças na rua. Entidades Populares- para tal fim, os autores pesquisaram o Centro de Educação Popular – CEPO e a Obra Promocional Santa Marta. O CEPO surge com a finalidade de ser um apoio e acessória as Organizações Sociais Populares, inicialmente com uma ênfase assistencialista, a partir de 1991 passa a seguir na linha da educação popular. A Obra P. Santa Marta surge com a intenção de tirar as crianças das ruas. Suas ações inicia com o uma constatação do numero de crianças pedintes nas ruas, posteriormente realizam uma conscientização da comunidade para o fim da esmola. Em 1992 a coordenação da obra é transferida da ordem religiosa para o popular. O CEPO e a Obra P. Santa Marta organizam-se em Assembléia Geral, por um Colegiado – que no CEPO são onze sócios e na Obra é formado pela diretoria e representantes das crianças e adolescentes – e por uma Diretoria. O CEPO estabelece relações com outras Organizações Sociais e Populares nacionais e internacionais, ONGs nacionais, universidades e escolas e instancias formal do Estado. Já a Obra Santa Marta, mantém relações como poder público municipal, com o CEPO, com a COMDICAE, Conselho Tutelar. As ações educativas que o CEPO desenvolve, é a partir da educação popular e desenvolvimento na região, para tal fim, desenvolve cinco programas de trabalho: a Produção e Trabalho; Políticas Sociais Públicas; Cultura e Organização Social; Documentação e Elaboração; Política Institucional e Prestação de Serviços. Na Obra P. Santa Marta, as ações educativas estão organizadas em programas: ações sócio-educativas; intercâmbio das experiências de trabalho com as crianças e adolescentes; discussões com a sociedade sobre os direitos da criança e adolescente; formação e aprimoramento pedagógico dos educadores; orientações sócio-familiar, com visitas nas residências e reuniões com a família. Para o CEPO, a educação popular é uma pratica social e a produção coletiva do conhecimento, visando à conscientização das classes populares como sujeitos históricos para a criação de um projeto de sociedade alternativo. Na Obra Santa marta, a educação popular é entendida como a prática sócio-educativa que desenvolva na pessoa o sujeito-cidadão. Para ambas as instituições, o projeto de sociedade deve manter princípios de solidariedade, igualdade, democracia e diversidade. De acordo com os autores, as Organizações Sociais e Populares são algo complexo e dinâmico, sendo que é necessário que tematizar suas histórias e experiência para assegurar seu avanço organizativo. O conhecimento nas organizações está diretamente ligado a realidade e alicerçada na prática coletiva e troca de experiências e, consequentemente a produção de novos conhecimentos. A metodologia das ações educativas apresenta um caráter dialético, visto que suas ações são sobre a realidade, com situações-problema em um complexo global. Porém, apresentam resultados como o surgimento de dirigentes e militantes combativos, mobilização e organização da base, relações sociais democráticas e solidárias. Nesse sentido, a educação popular juntamente com essa concepção metodológica dialética acaba por possibilitar o surgimento de sujeitos autônomos reflexivos e que atue intervindo na sociedade. Para todas as organizações pesquisadas, a educação popular é vista como meio para a libertação das classes populares e sua conscientização de protagonistas de seu processo histórico e social. Por fim, os autores vêem que as Organizações Sociais Populares apresentam-se como uma proposta para a superação da sociedade capitalista, seus sujeitos são vistos como esperança para a concretização de outro projeto de sociedade, tendo a educação popular como grande alicerce. 
Se entendermos que vivemos em uma sociedade preponderantemente desigual, que dia a dia promove e perpetua miséria, entenderemos também que a resistência a ela é algo inerente a si. Para tanto, a educação popular apresenta-se como numa das formas de resistências, luta e proposta de outra sociedade - proposta essa inclusa em sua gênese.    
REFERÊNCIAS
NOGARO, Arnaldo; PIRAN, Gestine Cássia Trindade; ZAFFARI, Nely. A história e as ações educativas das organizações sociais populares da cidade de Erechim/RS. Erechim: São Cristóvão, 1996.
1 Acadêmico do curso de Geografia da UFFS – campus Erechim – sian.pk@gmail.com

ÁGUAS, TERRITÓRIOS E CONFLITOS: (DES) AFOGANDO SONHOS

ENERGIA E CIDANIA - A luta dos atingidos por barragens 
Angélica Rossi1, Sian C. Alegre2

No decorre da história do homem, as barragens foram ganhando importância fundamental para o progresso humano, fato esse que ganha força com a Revolução Industrial e a crescente necessidade por energia. O problema energético brasileiro está no fato de que o modelo adotado apenas beneficia os poderosos, visto que o governo está submisso ao mando de empresas. As consequências das UHE quase nunca são pensadas e reparadas efetivamente. As transformações ao lugar são as mais diversas: inchamento populacional, aumento na natalidade, consumo de drogas, desestruturação familiar, criminalidade. Ainda, a que se considerar as questões identitárias, em que muitas pessoas mantém um apelo simbólico para com o lugar, nesse caso, transtornos psíquicos são comuns, já que estas não conseguem identificar-se com a nova moradia. Assim, para o MAB, as UHE constituem-se uma ameaça desde seu planejamento até muito tempo após seu funcionamento. Os impactos aos atingidos são materiais e imateriais. Dentre as formas utilizadas para a concretude das UHE, destaca-se a violência simbólica (BOURDIE 2007), segundo o autor, é quando o discurso dominante é aceito como legitimo pelos dominados, sem que percebam. Nessa lógica, a persuasão para a construção das UHE é essencial. Para tal fim, “(...) utilizam linguagem técnica de difícil compreensão, realizam intensa propaganda sobre os benefícios do empreendimento, disseminam informações imprecisas ou desencontradas.” (BENINCÁ, p. 61). A partir dos anos de 1970 é que o Brasil inicia um plano desenvolvimentista, que respectivamente acaba por determinar o modelo energético ao qual tratamos aqui. Com o governo de Emílio Garrastazu Médici (1969 – 1974), o país viveu o período conhecido como “milagre econômico”. Nesse momento o país destacava-se por investimentos do capital estrangeiro, empréstimos facilitados no exterior, alta nas exportações e baixas taxas de inflação. A partir de 1974 o “milagre econômico” começa ter seu fim. O Brasil torna-se refém de políticas internas, devido a sua divida internacional. Se por um lado a tinha-se a proliferação de problemas sociais, por outro, tais condições foram fundamentais na organização e resistência da sociedade civil. Com o fim do regime militar, a esquerda no Brasil começa a ter maior movimentação, destacando-se o movimento sindical, comunidades eclesiais de base, movimento político e movimentos populares. Em 1980 é fundado o Partido dos Trabalhadores (PT), congregando e combinando suas forças e atuações juntas a movimentos sociais. Ao final da década de 1970 e inicio de 1980, inicia-se entre os atingidos uma organização, esta faz-se em três regiões: Região Sul, Região, Região Norte. Identidade, organização e diretrizes do MAB- Para se constituir a identidade de uma organização, é necessário que haja uma identidade coletiva, ideais em comum, enfim, uma causa em comum. As partes que constituem o MAB são: “camponeses, trabalhadores rurais, ribeirinhos, quilombolas, indígenas, populações urbanas e outros que pertencem a grupos sociais inferiorizados e invisibilizados.” (BENINCÁ, p. 94). O MAB é um movimento social do campo que apresenta uma enorme diversidade. Cada organização pode apresentar formas distintas resistência às barragens. Alguns atingidos se organizam durantes o planejamento da obra, ao passo que outros organizam-se após começar a obra ou mesmo depois de estar em funcionamento. Dentre os principais objetivos do MAB estão: “resistir contra a construção de barragens que provoquem danos sociais e ambientais; lutar para que nenhuma barragem seja construída sem acordo com a população; defender a permanência do povo na terra; reivindicar garantia de justa indenização ou reassentamento aos atingidos; proporcionar formação aos integrantes do Movimento; ampliar o número de militantes; discutir e propor um novo projeto energético para o país que garanta, entre outros itens, utilização de fontes alternativas de geração, acesso à energia para todos, com tarifas populares para os consumidores familiares.” (BENINCÁ, p. 1000, grifo meu). Ainda, o MAB posiciona-se contra a “(...) privatização do setor elétrico, e defende que a energia e os recursos hídricos sejam controlados democraticamente pelos trabalhadores. Combate o desenvolvimento capitalista e propugna pela implantação de outro sistema social identificado com o socialismo.” (BENINCÁ, p. 100). O MAB organiza-se em grupos de base, que consistem em cinco ou dez famílias. Para cada grupo de base a um coordenador e uma coordenadora, sendo que entre eles é indicado os membros da coordenação municipal. Dentro desta, é extraído alguns para e coordenação regional, da regional sai nomes para a estadual e desta para a nacional. Há ainda uma direção que desmembra-se em grupos, estes tem o trabalho de encaminhar trabalhos mais específicos. Seu órgão máximo é o congresso nacional, este ocorre a cada três anos. De acordo com Benincá, o MAB apresenta três grandes momentos em sua história: Primeira fase – ao fim de 1970 a 1991 tem-se a gestação do movimento, em que as experiências regionais foram fundamentais para organização da luta contra as barragens. Surgem às bases para dar inicio ao movimento. É nesse momento que o MAB começa a atentar para as questões ambientais na luta de seus direitos. Segunda fase – esta fase vai de 1991 até 2002, é nesse período que o MAB expande suas ações ao nível nacional, assim como, o diálogo como outros movimentos no país e fora deste. Outra ação do movimento foi o de questionar com maior tenacidade a matriz a energética brasileira, e a forçar a busca por outras fontes de energia Nesse contexto, segundo Benincá, o MAB caracteriza-se por duas frentes de lutas: a de resistência para manter a população rural e seus direitos e a luta propositiva, em que buscam alternativas ao modelo energético brasileiro. Terceira fase – inicia-se em 2003, nesse momento tem-se a posse do então presidente Lula, expectativas de boas novas para alguns e decepção futura para outros. Com isso, o MAB aumenta sua ênfase ao alcance de uma democracia participativa. O movimento também vem intensificando as discussões sobre o modelo energético do país, assim como na busca pela tarifa social, desta forma, opondo-se a organização capitalista. BENINCÁ (2011) demonstra no posicionamento do MAB, a crítica à lógica consumista, de onde advém o questionamento: energia para quem e para que. Podemos ressaltar ainda, que o MAB tem interesse de avanço nas questões de democracia, cidadania, justiça, e a criação de outro projeto energético, que por sua vez necessita de um novo modelo social, político e ecológico. Entre as proposições, destacam-se a defesa de uma globalização contra-hegemônica, baseada em princípios de solidariedade, cooperação, equidade. As resistências centram-se em protestos, marchas, na busca de amparo jurídico, e também na arte, além das denuncias midiáticas. O MAB é acusado ainda, de bloquear o desenvolvimento econômico e perturbar a ordem social, mesmo tendo em vista seu objetivo de defender a água e energia como direitos fundamentais a população. As conquistas do MAB centram-se no atraso ou desistência na construção de usinas. Mas, tendo na utopia um fator fundamental, o MAB continua sua luta em defesa da vida.
REFERÊNCIAS
BENINCÁ, Dirceu. Energia e cidadania: a luta dos atingidos por barragens. São Paulo: Cortez, 2011.
1Acadêmica do curso de História da UFFS – Campus Erechim - angelica.rossi.uffs@gmail.com
2Acadêmico do curso de Geografia da UFFS – Campus Erechim – sian.pk@gmail.com

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Estágio Interdisciplinar de Vivência: o conhecimento como prática (r)evolucionária


Vinícius Fruscalso Maciel de Oliveira¹

Companheiros: é com muita satisfação que lhes escrevo este texto para falar sobre o IX EIV Santa Maria – RS, que foi realizado entre os dias 01 e 22 de fevereiro de 2012, em áreas de assentamentos do MST no estado do Rio Grande do Sul. Quem organiza o estágio é uma comissão formada por acadêmicos da UFSM e que se renova a cada ano, assim como os estagiários (que não precisam ser necessariamente estudantes da UFSM). O estágio sempre é dividido em três períodos: preparação, vivência e avaliação.
A parte da preparação teve início no dia 02/02 e término dia 06/02. Nessa primeira etapa aconteceu uma preparação “teórica”, na qual foi-se abordado temas como: estrutura da sociedade capitalista, questão agrária, questão indígena, questão quilombola, gênero, modelos de desenvolvimento entre outros através de filmes, debates, palestras e místicas. Tudo isso para os estagiários entenderem o que é o MST, quais suas bandeiras, suas complexidades, suas contradições e acima de tudo para entendermos como funciona a sociedade em que vivemos. Certamente sem essa preparação o EIV ficaria incompleto e com uma certa ausência de sentido. O estagiário precisa saber exatamente o que está fazendo ali.
As vivências começaram dia 08/02 e terminaram dia 16/02. Nesse período, cada estágiário ficou em um assentamento diferente, em diferentes cidades do estado do RS. Fiquei na cidade de Candiota, no sul do estado e tomei um choque de realidade: somente em Candiota existem 27 assentamentos, o que ilustra bem o tamanho da desigualdade de terras da região Sul do Estado. Cada família Sem-Terra possui aproximadamente 20 hectares de terra e poucas possuem implementos agrícolas que atendam as suas necessidades. A maioria dos agricultores possuem vínculo com a Bionatur, que é uma cooperativa de sementes agroecológicas.
Percebi em grande parte dos assentados uma espécie de “germe” de comunismo/anarquismo inconsciente, através de frases como: “Aqui a gente se governa”, “Aqui se tem liberdade”, “Sou meu próprio patrão”. E um apego à terra conquistada impressionante que gerava frases como “Só saio daqui dentro de um caixão”. Além de um sentimento de orgulho muito grande de ser protagonista da própria história, de ter lutado e conseguido melhorar de vida. Mas é claro que nem tudo são rosas, e existem muitos problemas nos quatro assentamentos que visitei em Candiota. Porém, o que me espantou foi a tranquilidade dos assentados para falar sobre os problemas. Fazem questão de contar a quem é de fora do assentamento. Os problemas mais citados foram a questão da falta de estrutura na parte da saúde, falta de crédito para financiamento da safra e de implementos agrícolas, arrendamentos de terra por uma minoria dos assentados e descaso dos governos para com os assentados.
A avaliação iniciou dia 18/02 e encerrou dia 21/02. Nesse tempo, foi socializado as vivências de cada um dos estagiários, para se retirar algum tipo de encaminhamento/conclusão. Além disso, foram tratados temas como desafios da reforma agrária, sociedade e universidade, juventude, movimento estudantil. Também realizou-se no último dia (21/02) uma visita a um acampamento do MST na cidade de Julio de Castilhos, na qual infelizmente não pude estar presente.
Viu-se claramente um amadurecimento teórico/intelectual de todos os estagiários, mas principalmente daqueles que não eram acadêmicos de cursos ditos “humanos”. Para aqueles que nomes como Marx, Hegel, Engels, Kropotkin assim como conceitos como mais-valia, dialética e força de trabalho eram desconhecidos. E essa mudança tem desdobramentos práticos como a valorização do trabalho coletivo, respeito ao próximo, preocupação com o bem-estar social, entre outros. Enfim, pode-se afirmar que o Estágio Interdisciplinar de Vivência muda a vida dos estagiários e sua visão de mundo. E é transformando as pessoas e unindo-as que se revoluciona a realidade.

¹Acadêmico do curso de Licenciatura em História pela UFFS – Campus Erechim. vinimisura@gmail.com