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sexta-feira, 27 de abril de 2012

EDUCAÇÃO POPULAR: UMA PROPOSTA DE RESISTÊNCIA?


A HISTÓRIA A AS AÇÕES EDUCATIVAS DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E POPULARES DA CIDADE DE ERECHIM / RS
Sian Carlos Alegre1 

Os autores iniciam o livro tratando da Educação Popular na América Latina, onde nasce sob uma pratica politica a serviço das classes populares, buscando outra forma de educação, não vista na escola. Assim, a Educação Popular tem a intenção de contribuir para formação de uma consciência politica, que faça com que as pessoas se libertem desta situação, e busquem sua autonomia. No Brasil, a Educação Popular chega como uma resposta ao desenvolvimento dos movimentos sociais. A parir de 1960, a Educação Popular pode ser vista em três momentos: Primeiramente a Educação popular como Alfabetização (década de 60); Segundo a Educação Popular como Consciência Política e Consciência de Classe (década de 70 e 80); Um terceiro momento é a Educação popular como Construtora de paradigmas e do Projeto Político (a partir da década de 90); A Educação popular passa a representar uma prática libertadora, que ajuda na conscientização da real situação de pobreza em que boa parte das pessoas se encontra. Segundo os autores, ela apresenta um esforço para mobilização e organização da população, o que a torna popular é a sua concepção de construção de sociedade. A Educação Popular caracteriza-se por: ser uma prática educativa a serviço da emancipação das classes populares; contribuir para a transformação da sociedade capitalista para uma que de voz as classes populares; educar para a democracia e ser uma ferramenta na organização das classes populares. São as organizações pesquisadas: Organização sindical, Cooperativismo, Movimento Social Popular e Entidades Populares. Organização Sindical Rural fundado em 1962 tem como proposição lutar pelos direitos dos pequenos e médios produtores rurais. Inicialmente mantinham um caráter assistencialista, mas a partir de 1980 inserem-se no novo sindicalismo, reorganizando sua atuação. Organiza-se em Assembléia geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria. Mantém relações com o movimento popular e outros sindicatos. Suas ações consistem em: prestação de serviço; lutas sociais e econômicas; experiência de produção alternativa nas pequenas comunidades; constante informação aos seus membros (programas de radio, boletim informativo); campanhas de sindicalização; organização de base. Para este sindicato a educação popular consiste em utilizar a sua realidade como princípio. Organização Sindical Urbana – sua fundação é resultado da articulação de trabalhadores de varias categorias. Sua finalidade de fundação é: congregação de trabalhadores, reivindicação e soma de forças populares; lutas por direitos sociais e interesses comuns. Segundo os autores, é possível ver três fases em sua história: Fase de Oposição Sindical (1979 a 1985); a Fase de Lutas (1986 a 1988); Fase de Consolidação (1989 aos dias atuais. Organizam-se em Assembléia Geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal, Diretoria e Diretoria Executiva. Suas relações compreendem: relação com a categoria; com a classe patronal; com outros sindicatos; com poder público; com o CEPO e com população em geral. Dentre as ações educativas, destaca-se: as lutas sócias e trabalhistas e a mudança estrutural da sociedade; a consciência do sindicato como instrumento de luta e a organização sindical na base. Para as Organizações Sindicais Urbanas o projeto de sociedade está baseado na justiça, igualdade, participação e na democracia. Cooperativismo as cooperativas surgem do princípio de cooperação e organização de todos os associados. As cooperativas estudas em Erechim foram a Cooperativa de Eletrificação rural do Alto Uruguai Ltda. – CRERAL, criada em 1969 e a Cooperativa dos Produtores Rurais do Alto Uruguai Ltda. – COPERAL, fundada em 1993. A CRERAL é criada para levar luz elétrica ás propriedades rurais e comunidades. Já a COPERAL, é fundada para estabelecer um novo modo de cooperativismo, buscado defender os direitos dos agricultores e suas necessidades mais primarias. Ambas as cooperativas organizam-se em Assembléia Geral, Conselho Fiscal e Administrativo. Estas se relacionam com o movimento popular e sindical, com o CEPO, CAPA e o CETAP. A CRERAL ainda mantém uma relação com o estado, a fim de negociar o custo da energia. A CRERAL desenvolve atividades como: conscientização sobre a atuação da Cooperativa e capacitação para formação de lideranças. Já a COPERAL, destaca-se: a discussão das linhas políticas e o modo de trabalho, através de assembléias regionais e municipais; reuniões nas comunidades rurais e a capacitação de lideranças. Para a CRERAL, a educação popular contribui para a pessoa ver a sua realidade tal qual ela é, consolidando-se no cotidiano. Já para a COPERAL, a educação popular é outra forma de educar, com uma proposta política administrativa econômica e social de educação. Para ambas as cooperativas, o modelo de sociedade baseia-se na democracia, justiça e igualdade, com justa distribuição de renda, se explorados e com trabalho para todos. Movimento Social Popular- Nesse item, os autores destacaram a Comissão Regional de Atingidos por Barragens – CRAB, criada em 1979, a União das Associações de Moradores de Erechim – UAME, fundada em 1990 e o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais – M.M.T.R/ Alto Uruguai, fundado em 1984. O CRAB inicia sua trajetória apenas com a prestação de serviços aos atingidos, posteriormente aumenta sua abrangência, incluindo todos os agricultores do Alto Uruguai. Trabalha com a formação de lideranças, reuniões nas comunidades e distribuição de boletins informativos. O M.M.T.R. inicia-se com apenas reivindicações, posteriormente busca a inserção da mulher trabalhadora rural nos espaços sociais e nas lutas sociais. Também passam a trabalhar questões de gênero e do processo educativo nas famílias, com intenção de inserir a mulher na administração da propriedade. A UAME inicia suas atividades com característica assistencial e cadastramento de famílias com problemas sócias e consequente visitados membros diretores. O CRAB organiza-se através de Assembléia geral, Coordenação Geral, Executiva Geral, Executivas Regionais e as Equipes de Trabalho. Já o M.M.T.R. divide-se em Assembléia Estadual, Direção e Executiva Estadual, Direção e Executiva Regional, Direção Executiva Municipal e grupo de Mulheres por Comunidade. O UAME está organizado em Assembléia Geral, Diretoria e Presidência das Associações de Moradores dos bairros. Entre as relações estabelecidas, o CRAB mantém com a ELETROSUL, Prefeitura Municipais e a população em geral. O M.M.T.R. mantém relações com o movimento sindical, a CRAB, igrejas, CEPO e uma relação de confrontamento com o poder público. Já a UAME, estabelece relações com a Prefeitura de Erechim, Associações de Moradores de Paulo Bento. Dentre as ações dos movimentos destaca-se, CRAB: Assembléias para estabelecer o dialogo com a ELETROSUL; mobilização no dia Nacional de Luta contra a Barragem,; acampamento e ocupação da sede de ELETROSUL e audiência com as autoridades. O M.M.T.R. desenvolve atividades como; programas de rádio, incentivar a documentação da s mulheres; campanha contra a violência e educação sexista; formação na área da saúde, política, sexualidade e afetividade; A UAME movimenta-se por: participação no Conselho Municipal de Saúde; legalização dos terrenos nos bairros; atendimento de urgência ante a catástrofes; auxilio a pessoas carentes, campanha do agasalho; melhoria na infra-estrutura dos bairros.O CRAB vê a educação popular como meio para a formação critica do sujeito e sua autonomia, a prática e a reflexão são a forma de buscá-la. Para o M.M.T.R. a educação popular vislumbra a realidade, buscando mudanças na própria relação familiar. Já para a UAME, a educação popular caracteriza-se pela humanização das pessoas e busca por seus direitos. O CRAB e o M.M.T.R. tem um projeto de sociedade socialista, pautado na justiça e democracia, para além dessas questões o M.M.T.R. busca uma alteração nas relações de gênero. A UAME afirma a necessidade de uma sociedade com diminuição da fome e sem crianças na rua. Entidades Populares- para tal fim, os autores pesquisaram o Centro de Educação Popular – CEPO e a Obra Promocional Santa Marta. O CEPO surge com a finalidade de ser um apoio e acessória as Organizações Sociais Populares, inicialmente com uma ênfase assistencialista, a partir de 1991 passa a seguir na linha da educação popular. A Obra P. Santa Marta surge com a intenção de tirar as crianças das ruas. Suas ações inicia com o uma constatação do numero de crianças pedintes nas ruas, posteriormente realizam uma conscientização da comunidade para o fim da esmola. Em 1992 a coordenação da obra é transferida da ordem religiosa para o popular. O CEPO e a Obra P. Santa Marta organizam-se em Assembléia Geral, por um Colegiado – que no CEPO são onze sócios e na Obra é formado pela diretoria e representantes das crianças e adolescentes – e por uma Diretoria. O CEPO estabelece relações com outras Organizações Sociais e Populares nacionais e internacionais, ONGs nacionais, universidades e escolas e instancias formal do Estado. Já a Obra Santa Marta, mantém relações como poder público municipal, com o CEPO, com a COMDICAE, Conselho Tutelar. As ações educativas que o CEPO desenvolve, é a partir da educação popular e desenvolvimento na região, para tal fim, desenvolve cinco programas de trabalho: a Produção e Trabalho; Políticas Sociais Públicas; Cultura e Organização Social; Documentação e Elaboração; Política Institucional e Prestação de Serviços. Na Obra P. Santa Marta, as ações educativas estão organizadas em programas: ações sócio-educativas; intercâmbio das experiências de trabalho com as crianças e adolescentes; discussões com a sociedade sobre os direitos da criança e adolescente; formação e aprimoramento pedagógico dos educadores; orientações sócio-familiar, com visitas nas residências e reuniões com a família. Para o CEPO, a educação popular é uma pratica social e a produção coletiva do conhecimento, visando à conscientização das classes populares como sujeitos históricos para a criação de um projeto de sociedade alternativo. Na Obra Santa marta, a educação popular é entendida como a prática sócio-educativa que desenvolva na pessoa o sujeito-cidadão. Para ambas as instituições, o projeto de sociedade deve manter princípios de solidariedade, igualdade, democracia e diversidade. De acordo com os autores, as Organizações Sociais e Populares são algo complexo e dinâmico, sendo que é necessário que tematizar suas histórias e experiência para assegurar seu avanço organizativo. O conhecimento nas organizações está diretamente ligado a realidade e alicerçada na prática coletiva e troca de experiências e, consequentemente a produção de novos conhecimentos. A metodologia das ações educativas apresenta um caráter dialético, visto que suas ações são sobre a realidade, com situações-problema em um complexo global. Porém, apresentam resultados como o surgimento de dirigentes e militantes combativos, mobilização e organização da base, relações sociais democráticas e solidárias. Nesse sentido, a educação popular juntamente com essa concepção metodológica dialética acaba por possibilitar o surgimento de sujeitos autônomos reflexivos e que atue intervindo na sociedade. Para todas as organizações pesquisadas, a educação popular é vista como meio para a libertação das classes populares e sua conscientização de protagonistas de seu processo histórico e social. Por fim, os autores vêem que as Organizações Sociais Populares apresentam-se como uma proposta para a superação da sociedade capitalista, seus sujeitos são vistos como esperança para a concretização de outro projeto de sociedade, tendo a educação popular como grande alicerce. 
Se entendermos que vivemos em uma sociedade preponderantemente desigual, que dia a dia promove e perpetua miséria, entenderemos também que a resistência a ela é algo inerente a si. Para tanto, a educação popular apresenta-se como numa das formas de resistências, luta e proposta de outra sociedade - proposta essa inclusa em sua gênese.    
REFERÊNCIAS
NOGARO, Arnaldo; PIRAN, Gestine Cássia Trindade; ZAFFARI, Nely. A história e as ações educativas das organizações sociais populares da cidade de Erechim/RS. Erechim: São Cristóvão, 1996.
1 Acadêmico do curso de Geografia da UFFS – campus Erechim – sian.pk@gmail.com

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