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segunda-feira, 30 de abril de 2012


 RESSIGNIFICAÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DO TRABALHO E MORADIA DOS CATADORES DE MATERIAL RECICLÁVEL

Matildes Regina Pizzio Tomasi[1]

Rosana Scolari, em seu trabalho de dissertação de mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realiza uma pesquisa junto aos catadores de material reciclável dos bairros Cristo Rei e Progresso da cidade de Erechim, RS. Com o objetivo de verificar a importância da ressignificação da identidade através da participação da ARCAN.[2] E os benefícios que esta associação proporciona para uma população que se encontra a margem da sociedade local. Dentre as situações analisadas pela autora, estão às questões de uma inserção e adaptação a novas realidades, por isso, ela trabalha com conceitos de território, lugar, cotidiano, moradia, trabalho e economia solidária, que possibilitam satisfazer este conjunto como um todo. Esclarecendo o significado de desterritorialização, territorialidade, cidadania, exclusão/ inclusão social, solidariedade e identidade. E também a prática de uma economia solidaria, como forma de inclusão e alternativa, mediante a uma economia capitalista excludente. Utilizou para a realização deste trabalho, questionário com associados da ARCAN e também com catadores independestes, além de acompanhar de perto as atividades dos associados.

O trabalho da autora consiste em entender a reprodução de vida no cotidiano que expressa o interesse comum que organizou a associação dos catadores de Erechim, a ARCAN. Traçar um perfil e procurar entender quem são estas pessoas que sobrevivem do lixo, que compartilham sua cultura e pobreza. Compreender os paradigmas sociais, nos quais esta gente tão fragilizadas, que buscam a inserção e inclusão em uma sociedade que disfarçadamente a discrimina e dificulta sua ascensão. Analisar o espaço onde vivem estes catadores, observando o seu cotidiano e as relações que se desenvolvem nos locais de trabalho e habitacionais. Neste contexto que se realizam os processos de desterritorialização e consequentemente uma nova tentativa de readaptação em outra dimensão social e espacial. É quando surge esta organização de pessoas de diferentes grupos sociais, na busca de novos significados e alternativas na qual eles possam ser inseridos, à economia solidária.

No primeiro capítulo a autora trabalha com alguns conceitos que possam esclarecer e explicar realidades adversas e suas formas de reprodução. Explicando a importância que o trabalho, a moradia, o território e o lugar adquirem na vida das pessoas. Como elas se identificam com determinados espaços, e os significados que os mesmo representam. De como o sentimento de pertencimento a algo é significativo e norteador a o sujeito. A necessidade de inclusão e participação dignifica o ser humano. Assim como o trabalho e a moradia. A criação da ARCAN e o que ela representa na vida de seus associados.

No segundo capítulo a autora faz uma análise da agravação das dificuldades social no sistema capitalista. Onde classifica a economia solidária como alternativa viável de integrar a população excluída ao mercado de trabalho. Destaca que este tipo de empreendimento necessita estar sempre em competição com o mercado capitalista, o que se classifica como desvantagem ou menor oportunidade de prosperidade. Faz uma comparação entre economia solidaria e economia capitalista e destaca a eficiência do capitalismo em manter na economia a lógica da acumulação.

No terceiro capítulo ela trabalha a origem da ARCAN e as características de seus associados, dos que trabalham na triagem e os que coletam material reciclável nas ruas e também dos catadores independentes. Com destaque para a fragilidade da identidade de seus associados e a importância do trabalho que executam. Abordando as relações entre o poder público do município, os catadores e as empresas de reciclagem. E também o trabalho do Padre Dirceu Benicá como colaborador e mentor da ARCAN e do SEPO, por fornecer as bases teóricas da economia solidaria, com a realização de cursos com base na educação popular.

O quarto capítulo é uma abordagem sobre a moradia dos catadores, bem como as condições destas habitações e como elas se constituem ou como se realizaram a ocupação das mesmas. A solidariedade que acontece entre os catadores e como se desenvolve o sentimento de pertencimento a um determinado lugar ou território. E a participação do poder público municipal para melhorar as condições de saneamento e higiene nestes locais.

O último capítulo a autora exemplifica a sua teoria de que a ressignificação da identidade se realiza através de uma territorialidade e na qual o sujeito possa reconhecer-se como indivíduo e fazer parte deste quadro social,  ser aceito em determinada realidade e contexto.

A autora conclui que a ARCAN trouxe outra perspectiva e contribuiu para elevar a autoestima, assim como dignificou consideravelmente às relações entre os sujeitos sociais. Reescreveu a história dos catadores e melhorou suas condições de vida e pode integrar e absorver uma camada excluída da população erexinense. Que diante do processo de exclusão, eles se encontram em uma relação de alienação diante da realidade social da cidade de Erechim, pois só conseguem sentirem-se descontraídos a partir do momento em que atravessam a BR e se encontram em nos bairros Cristo Rei e Progresso. A crítica que ela faz é quando traça um paralelo entre a ARCAN e as empresas de reciclagem que existem na cidade, observa que a renda mensal das outras empresas e dos catadores independentes é maior que a da ARCAN, por isso ela diz que eles não são muito dedicados a o trabalho. Afirma também, que a solidariedade entre os catadores e a ajuda mútua são fatores determinantes para assegurar o mínimo de bem estar e atender suas necessidades básicas.





REFERÊNCIA:

SCOLARI, Rosana Mary Dela Torre. Ressignificação da identidade através do trabalho e moradias dos catadores de material reciclável da associação de recicladores cidadãos amigos da natureza do município de Erechim (RS). Porto Alegre: UFRGS, 2006.







[1] Acadêmica do 5º semestre do curso de Licenciatura em História da UFFS/Erechim. Mar. 2012.
[2] Associação dos Recicladores Cidadãos Amigos da Natureza.

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