RESSIGNIFICAÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DO
TRABALHO E MORADIA DOS CATADORES DE MATERIAL RECICLÁVEL
Matildes Regina
Pizzio Tomasi[1]
Rosana Scolari,
em seu trabalho de dissertação de mestrado pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, realiza uma pesquisa junto aos catadores de material reciclável
dos bairros Cristo Rei e Progresso da cidade de Erechim, RS. Com o objetivo de
verificar a importância da ressignificação da identidade através da
participação da ARCAN.[2]
E os benefícios que esta associação proporciona para uma população que se
encontra a margem da sociedade local. Dentre as situações analisadas pela
autora, estão às questões de uma inserção e adaptação a novas realidades, por
isso, ela trabalha com conceitos de território, lugar, cotidiano, moradia,
trabalho e economia solidária, que possibilitam satisfazer este conjunto como
um todo. Esclarecendo o significado de desterritorialização, territorialidade,
cidadania, exclusão/ inclusão social, solidariedade e identidade. E também a
prática de uma economia solidaria, como forma de inclusão e alternativa,
mediante a uma economia capitalista excludente. Utilizou para a realização
deste trabalho, questionário com associados da ARCAN e também com catadores
independestes, além de acompanhar de perto as atividades dos associados.
O trabalho da
autora consiste em entender a reprodução de vida no cotidiano que expressa o
interesse comum que organizou a associação dos catadores de Erechim, a ARCAN.
Traçar um perfil e procurar entender quem são estas pessoas que sobrevivem do
lixo, que compartilham sua cultura e pobreza. Compreender os paradigmas
sociais, nos quais esta gente tão fragilizadas, que buscam a inserção e
inclusão em uma sociedade que disfarçadamente a discrimina e dificulta sua
ascensão. Analisar o espaço onde vivem estes catadores, observando o seu
cotidiano e as relações que se desenvolvem nos locais de trabalho e
habitacionais. Neste contexto que se realizam os processos de
desterritorialização e consequentemente uma nova tentativa de readaptação em
outra dimensão social e espacial. É quando surge esta organização de pessoas de
diferentes grupos sociais, na busca de novos significados e alternativas na
qual eles possam ser inseridos, à economia solidária.
No primeiro
capítulo a autora trabalha com alguns conceitos que possam esclarecer e
explicar realidades adversas e suas formas de reprodução. Explicando a
importância que o trabalho, a moradia, o território e o lugar adquirem na vida
das pessoas. Como elas se identificam com determinados espaços, e os
significados que os mesmo representam. De como o sentimento de pertencimento a
algo é significativo e norteador a o sujeito. A necessidade de inclusão e
participação dignifica o ser humano. Assim como o trabalho e a moradia. A
criação da ARCAN e o que ela representa na vida de seus associados.
No segundo
capítulo a autora faz uma análise da agravação das dificuldades social no
sistema capitalista. Onde classifica a economia solidária como alternativa
viável de integrar a população excluída ao mercado de trabalho. Destaca que
este tipo de empreendimento necessita estar sempre em competição com o mercado
capitalista, o que se classifica como desvantagem ou menor oportunidade de
prosperidade. Faz uma comparação entre economia solidaria e economia capitalista
e destaca a eficiência do capitalismo em manter na economia a lógica da
acumulação.
No terceiro
capítulo ela trabalha a origem da ARCAN e as características de seus
associados, dos que trabalham na triagem e os que coletam material reciclável
nas ruas e também dos catadores independentes. Com destaque para a fragilidade
da identidade de seus associados e a importância do trabalho que executam.
Abordando as relações entre o poder público do município, os catadores e as
empresas de reciclagem. E também o trabalho do Padre Dirceu Benicá como
colaborador e mentor da ARCAN e do SEPO, por fornecer as bases teóricas da
economia solidaria, com a realização de cursos com base na educação popular.
O quarto
capítulo é uma abordagem sobre a moradia dos catadores, bem como as condições
destas habitações e como elas se constituem ou como se realizaram a ocupação
das mesmas. A solidariedade que acontece entre os catadores e como se
desenvolve o sentimento de pertencimento a um determinado lugar ou território.
E a participação do poder público municipal para melhorar as condições de
saneamento e higiene nestes locais.
O último
capítulo a autora exemplifica a sua teoria de que a ressignificação da
identidade se realiza através de uma territorialidade e na qual o sujeito possa
reconhecer-se como indivíduo e fazer parte deste quadro social, ser aceito em determinada realidade e
contexto.
A autora
conclui que a ARCAN trouxe outra perspectiva e contribuiu para elevar a autoestima,
assim como dignificou consideravelmente às relações entre os sujeitos sociais.
Reescreveu a história dos catadores e melhorou suas condições de vida e pode
integrar e absorver uma camada excluída da população erexinense. Que diante do
processo de exclusão, eles se encontram em uma relação de alienação diante da
realidade social da cidade de Erechim, pois só conseguem sentirem-se
descontraídos a partir do momento em que atravessam a BR e se encontram em nos
bairros Cristo Rei e Progresso. A crítica que ela faz é quando traça um
paralelo entre a ARCAN e as empresas de reciclagem que existem na cidade,
observa que a renda mensal das outras empresas e dos catadores independentes é
maior que a da ARCAN, por isso ela diz que eles não são muito dedicados a o
trabalho. Afirma também, que a solidariedade entre os catadores e a ajuda mútua
são fatores determinantes para assegurar o mínimo de bem estar e atender suas
necessidades básicas.
REFERÊNCIA:
SCOLARI,
Rosana Mary Dela Torre. Ressignificação
da identidade através do trabalho e moradias dos catadores de material
reciclável da associação de recicladores cidadãos amigos da natureza do
município de Erechim (RS). Porto Alegre: UFRGS, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário