RESSURGIMENTO DO SINDICALISMO NO ALTO URUGUAI
Matildes Regina Pizzio
Tomasi[1]
O
quarto capítulo da obra de Anacleto Zanella[2]
sobre o sindicalismo no alto Uruguai gaúcho, trata do ressurgimento a afirmação
do sindicalismo regional no período de 1978 a 1990. Destaca que a causa
principal deste ressurgimento é a conjuntura nacional com o enfraquecimento de
o governo militar, causado por uma grande crise econômica, geradora de um alto
índice inflacionário. O descontentamento do trabalhador diante de tais
acontecimentos fortaleceu o sindicalismo, pois era a única forma de reivindicação
disponível, tanto em nível nacional como regional. Assim como a forte
influência da Igreja Católica progressista, responsável pela formação de
lideranças sindicais.
O
Autor inicia o capítulo trazendo um apanhado geral da situação econômica nacional,
causadora de um arrocho salarial, contabilizando uma perda salarial de 34,1% em
1973. Que desencadeou no ressurgimento do movimento grevista a partir do ABC
paulista em 1978, atingindo nível nacional até 1980. Mas as manifestações
populares também exigiam algumas medidas no setor político, direcionando o país
a uma redemocratização e fim do regime militar, sobretudo a partir de 1983 com
a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que tinha o objetivo de
unificar as forças sindicais, fazendo oposição a Central Geral dos Trabalhadores
(CGT). Pois a CGT, antiga CONCLAT,[3]
desenvolvia uma atividade conciliadora, enquanto que CUT tinha um perfil
classista.
Na
região do Alto Uruguai as mudanças que ocorreram no sindicalismo, se deram graças
às ações da Igreja Católica Progressista, tanto no meio rural como no urbano,
que coordenou diversos trabalhos no sentido de orientar os fiéis em busca de
melhores condições de vida. Através das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs) e
da Teologia da Libertação, que se fundamenta em três princípios: Ver, julgar e
agir. Dentre as atividades da Igreja Católica estão vários desmembramentos, que
abrangeram toda a região do Alto Uruguai, como: Comissão Pastoral da Terra
(CPT); Pastoral da Juventude (PJ); Juventude Operária Católica (JOC); Pastoral
Operária (PO); Curso de Assessoramento de Jovens (CAJO); Treinamento de Ação Pastoral
(TAPA). A JOC e a ACO, Foram criadas em Erechim, na década de 70, por
intermédio do Padre Adelar de David e da Irmã Deonilse Rovani. Além desses,
outros grupos foram criados na região, como o Grupo Paulo VI, que deu origem à
luta contra as barragens; Esquema Dois em Passo Fundo; Escola de Servidores que
preparava lideranças comunitárias para toda a Diocese de Erechim, a esta escola
pertenceu Ivar Pavan. E as CEBs que apoiaram movimentos regionais como a
Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAL), de Mulheres Trabalhadoras
Rurais e o MST.
Segundo
o autor é neste período de surge um novo sindicalismo rural no Alto Uruguai no
qual ele destaca três fatores determinantes: “a liberalização política vivida
em todo o país, as mudanças estruturais na economia agrária do estado e seus
impactos sociais e a ação de setores progressistas da Igreja Católica”. (Zanella,
2004, p. 201). Destaca também os problemas enfrentados pelos trabalhadores
rurais que eram: “os baixos preços dos produtos agrícolas, a falta de
assistência médico-hospitalar, a falta de aposentadoria, a concentração de
renda e das propriedades no campo e o êxodo rural.” (Zanella, 2004, p. 202). Observa
que esta conjuntura social favoreceu o desenvolvimento de um novo sindicalismo,
pois o velho sistema não atendia mais as necessidades dos trabalhadores rurais,
por ser um sindicalismo de assistencialismo atrelado a o Estado.
Neste
contexto surgem novos ideais com disputas entre “vermelhos” e “pelegos”. Os “vermelhos” eram os sindicalistas ligados
a CUT e os “pelegos” os ligados a Fetag. O autor descreve as disputas
eleitorais entre ambos, com suas artimanhas políticas e a tomada do poder em
cada sindicato na região, com a maioria de sindicatos liderados por setores
ligados a CUT em 1990. O apoio da Igreja Católica progressista a os
sindicalistas da CUT, e a celebração de uma missa pela posse da diretoria do
STR de Erechim, na qual foi queimado um pelego simbolizando o fim do
sindicalismo atrelado a o Estado.
O
autor afirma que a predominância de lideres sindical vinculada a CUT beneficiou
positivamente as ações do sindicalismo rural na região, Pois somarem-se as manifestações
nacionais e se fortaleceram enquanto categoria. “Conquistaram direitos e foram
reconhecidos como sujeitos no processo de desenvolvimento regional.” (Zanella,
2004,p.210). Participaram ativamente de lutas por:
·
política
agrícola, com garantia de preço, crédito e seguro para a produção;
·
reforma
agrária com direito à terra para quem quisesse nela trabalhar;
·
contra
a construção de barragens no rio Uruguai;
·
a
luta em torno da produção e venda do leite;
·
saúde
pública, gratuita e de boa qualidade;
·
defesa
do direito à aposentadoria e ao salário-maternidade;
·
a
luta das mulheres trabalhadoras rurais pelo direito a sindicalização, ao talão
de produtor, à documentação, bem como a igualdade de gênero;
·
eleições
diretas para presidente da República”. (Zanella, 2004, p.210).
Com
estas lutas frequentes o STR conseguiu comprar o hospital de Aratiba, que
beneficiou os trabalhadores rurais locais. O que causou uma grande adesão ao
movimento sindical regional, quando em março de 1987 o STR conseguiu reunir
12.000 agricultores no maior protesto da categoria, da década, em Erechim. Que
motivou também os movimentos de mulheres trabalhadoras rurais, tais como o
Movimento da Mulher Camponesa ligado a Fetag e a Organização das Mulheres da
Roça, ligado a CUT, que em 1989 participou do processo de criação do Movimento
das Mulheres Trabalhadoras Rurais.
Neste
período também houve uma renovação no sindicalismo urbano, principalmente pela
ação da Igreja Católica Progressista com atuação intensiva através das CEBs. Zanella
destaca que o marco inicial desta mudança se deu com a paralização dos
professores estaduais em abril de 1979 e a criação do núcleo regional de CPERS
em junho do mesmo ano. Seguida da greve de trabalhadores nas indústrias de
Construção Civil e Mobiliário (1979) sobretudo os funcionários da Indústria
Madalozzo. E a greve dos bancários (1978/1979), na qual a categoria de Erechim
acompanhou a paralização em assembleia, mas não entrou em greve. A partir de 1983
com a formação da CUT, começa a disseminar campanhas de adesão na região e as primeiras
adesões a CUT são as do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação,
no qual Anacleto Zanella era integrante e do 15º Núcleo do CPERS. Surge também a Equipe Sindical Urbana da CUT
(ESUC) que resultou na formação de lideranças sindicais e apoiou a criação de
novos sindicatos: Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Erechim e o
Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde. Que se somaram as lutas
sindicais urbanas regionais, que reivindicavam:
“[...]
as campanhas salariais das diversas categorias de trabalhadores, o cumprimento
de acordos coletivos de trabalho e da legislação trabalhista, a garantia do
pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade, a manutenção a
ampliação dos direitos sociais trabalhistas no processo constituinte, saúde
pública, gratuita e de boa qualidade, direito a aposentadoria especial,
melhoria e cumprimento do plano de carreira, melhores condições de trabalho,
liberdade e autonomia sindical e eleições diretas para presidente da
República.” (Zanella,2004, p.233).
Porém
com número menor de greves no setor privado, em relação ao público, devido a o
medo que o trabalhador tinha de perder o emprego, pois perderam a estabilidade
durante o governo militar. E por serem empresas de pequeno e médio porte,
favorecia a uma relação amistosa entre os funcionários e os empregadores. Portanto
as maiores paralizações aconteceram durante as greves gerais.
O
autor conclui com uma avaliação muito positiva a ação sindical regional deste
período. No qual as influências da Igreja progressista e da CUT, favoreceram
para intensificar e estimular a participação popular e libertar o sindicato do
atrelamento ao Estado. Que resultaram em garantia de direito trabalhistas e
melhorias nos setores previdenciários. Porém o que ele não conseguiu perceber
foi que tanto a CUT como a Igreja progressista se apropriou da força sindical
para disseminar sua doutrina, transformando o sindicado em um veículo para
dominar os oprimidos. Não classificou como negativas as disputas sindicais pelo
poder, que transformaram estes espaços em arenas de combate, e bases para
seguir carreiras políticas. A doutrina católica impregnada na mentalidade do
povo com tanta sutileza capaz reverter os princípios morais das comunidades
locais. E por fim da aniquilação completa do verdadeiro sentido do
sindicalismo, não deixaram nem resquícios dos valores anarquistas que criaram
as bases sindicais.
Bibliografia:
ZANELLA, Anacleto. A
trajetória do sindicalismo no Alto Uruguai gaúcho (1937-2003) Passo Fundo:
UPF, 2004.
[1]
Acadêmica do 5º semestre do curso de Licenciatura em História da UFFS/Erechim.
Fev. 2012.
[2]
Anacleto Zanella, mestre em História pela UPF. Foi presidente da CUT Alto
Uruguai e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de
Erechim e Gaurama, além de Secretário em formação da CUT/RS. Vereador pelo PT
em Erechim. Atualmente é Secretário da Educação em Erechim.
[3]
Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora
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