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sábado, 28 de abril de 2012

RESSURGIMENTO DO SINDICALISMO NO ALTO URUGUAI


 RESSURGIMENTO DO SINDICALISMO NO ALTO URUGUAI

Matildes Regina Pizzio Tomasi[1]

O quarto capítulo da obra de Anacleto Zanella[2] sobre o sindicalismo no alto Uruguai gaúcho, trata do ressurgimento a afirmação do sindicalismo regional no período de 1978 a 1990. Destaca que a causa principal deste ressurgimento é a conjuntura nacional com o enfraquecimento de o governo militar, causado por uma grande crise econômica, geradora de um alto índice inflacionário. O descontentamento do trabalhador diante de tais acontecimentos fortaleceu o sindicalismo, pois era a única forma de reivindicação disponível, tanto em nível nacional como regional. Assim como a forte influência da Igreja Católica progressista, responsável pela formação de lideranças sindicais.

O Autor inicia o capítulo trazendo um apanhado geral da situação econômica nacional, causadora de um arrocho salarial, contabilizando uma perda salarial de 34,1% em 1973. Que desencadeou no ressurgimento do movimento grevista a partir do ABC paulista em 1978, atingindo nível nacional até 1980. Mas as manifestações populares também exigiam algumas medidas no setor político, direcionando o país a uma redemocratização e fim do regime militar, sobretudo a partir de 1983 com a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que tinha o objetivo de unificar as forças sindicais, fazendo oposição a Central Geral dos Trabalhadores (CGT). Pois a CGT, antiga CONCLAT,[3] desenvolvia uma atividade conciliadora, enquanto que CUT tinha um perfil classista.

Na região do Alto Uruguai as mudanças que ocorreram no sindicalismo, se deram graças às ações da Igreja Católica Progressista, tanto no meio rural como no urbano, que coordenou diversos trabalhos no sentido de orientar os fiéis em busca de melhores condições de vida. Através das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs) e da Teologia da Libertação, que se fundamenta em três princípios: Ver, julgar e agir. Dentre as atividades da Igreja Católica estão vários desmembramentos, que abrangeram toda a região do Alto Uruguai, como: Comissão Pastoral da Terra (CPT); Pastoral da Juventude (PJ); Juventude Operária Católica (JOC); Pastoral Operária (PO); Curso de Assessoramento de Jovens (CAJO); Treinamento de Ação Pastoral (TAPA). A JOC e a ACO, Foram criadas em Erechim, na década de 70, por intermédio do Padre Adelar de David e da Irmã Deonilse Rovani. Além desses, outros grupos foram criados na região, como o Grupo Paulo VI, que deu origem à luta contra as barragens; Esquema Dois em Passo Fundo; Escola de Servidores que preparava lideranças comunitárias para toda a Diocese de Erechim, a esta escola pertenceu Ivar Pavan. E as CEBs que apoiaram movimentos regionais como a Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAL), de Mulheres Trabalhadoras Rurais e o MST.

Segundo o autor é neste período de surge um novo sindicalismo rural no Alto Uruguai no qual ele destaca três fatores determinantes: “a liberalização política vivida em todo o país, as mudanças estruturais na economia agrária do estado e seus impactos sociais e a ação de setores progressistas da Igreja Católica”. (Zanella, 2004, p. 201). Destaca também os problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais que eram: “os baixos preços dos produtos agrícolas, a falta de assistência médico-hospitalar, a falta de aposentadoria, a concentração de renda e das propriedades no campo e o êxodo rural.” (Zanella, 2004, p. 202). Observa que esta conjuntura social favoreceu o desenvolvimento de um novo sindicalismo, pois o velho sistema não atendia mais as necessidades dos trabalhadores rurais, por ser um sindicalismo de assistencialismo atrelado a o Estado.

Neste contexto surgem novos ideais com disputas entre “vermelhos” e “pelegos”.  Os “vermelhos” eram os sindicalistas ligados a CUT e os “pelegos” os ligados a Fetag. O autor descreve as disputas eleitorais entre ambos, com suas artimanhas políticas e a tomada do poder em cada sindicato na região, com a maioria de sindicatos liderados por setores ligados a CUT em 1990. O apoio da Igreja Católica progressista a os sindicalistas da CUT, e a celebração de uma missa pela posse da diretoria do STR de Erechim, na qual foi queimado um pelego simbolizando o fim do sindicalismo atrelado a o Estado.

O autor afirma que a predominância de lideres sindical vinculada a CUT beneficiou positivamente as ações do sindicalismo rural na região, Pois somarem-se as manifestações nacionais e se fortaleceram enquanto categoria. “Conquistaram direitos e foram reconhecidos como sujeitos no processo de desenvolvimento regional.” (Zanella, 2004,p.210). Participaram ativamente de lutas por:



·         política agrícola, com garantia de preço, crédito e seguro para a produção;

·         reforma agrária com direito à terra para quem quisesse nela trabalhar;

·         contra a construção de barragens no rio Uruguai;

·         a luta em torno da produção e venda do leite;

·         saúde pública, gratuita e de boa qualidade;

·         defesa do direito à aposentadoria e ao salário-maternidade;

·         a luta das mulheres trabalhadoras rurais pelo direito a sindicalização, ao talão de produtor, à documentação, bem como a igualdade de gênero;

·         eleições diretas para presidente da República”. (Zanella, 2004, p.210).



Com estas lutas frequentes o STR conseguiu comprar o hospital de Aratiba, que beneficiou os trabalhadores rurais locais. O que causou uma grande adesão ao movimento sindical regional, quando em março de 1987 o STR conseguiu reunir 12.000 agricultores no maior protesto da categoria, da década, em Erechim. Que motivou também os movimentos de mulheres trabalhadoras rurais, tais como o Movimento da Mulher Camponesa ligado a Fetag e a Organização das Mulheres da Roça, ligado a CUT, que em 1989 participou do processo de criação do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais.

Neste período também houve uma renovação no sindicalismo urbano, principalmente pela ação da Igreja Católica Progressista com atuação intensiva através das CEBs. Zanella destaca que o marco inicial desta mudança se deu com a paralização dos professores estaduais em abril de 1979 e a criação do núcleo regional de CPERS em junho do mesmo ano. Seguida da greve de trabalhadores nas indústrias de Construção Civil e Mobiliário (1979) sobretudo os funcionários da Indústria Madalozzo. E a greve dos bancários (1978/1979), na qual a categoria de Erechim acompanhou a paralização em assembleia, mas não entrou em greve. A partir de 1983 com a formação da CUT, começa a disseminar campanhas de adesão na região e as primeiras adesões a CUT são as do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, no qual Anacleto Zanella era integrante e do 15º Núcleo do CPERS.  Surge também a Equipe Sindical Urbana da CUT (ESUC) que resultou na formação de lideranças sindicais e apoiou a criação de novos sindicatos: Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Erechim e o Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde. Que se somaram as lutas sindicais urbanas regionais, que reivindicavam:

“[...] as campanhas salariais das diversas categorias de trabalhadores, o cumprimento de acordos coletivos de trabalho e da legislação trabalhista, a garantia do pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade, a manutenção a ampliação dos direitos sociais trabalhistas no processo constituinte, saúde pública, gratuita e de boa qualidade, direito a aposentadoria especial, melhoria e cumprimento do plano de carreira, melhores condições de trabalho, liberdade e autonomia sindical e eleições diretas para presidente da República.” (Zanella,2004, p.233).

Porém com número menor de greves no setor privado, em relação ao público, devido a o medo que o trabalhador tinha de perder o emprego, pois perderam a estabilidade durante o governo militar. E por serem empresas de pequeno e médio porte, favorecia a uma relação amistosa entre os funcionários e os empregadores. Portanto as maiores paralizações aconteceram durante as greves gerais.

O autor conclui com uma avaliação muito positiva a ação sindical regional deste período. No qual as influências da Igreja progressista e da CUT, favoreceram para intensificar e estimular a participação popular e libertar o sindicato do atrelamento ao Estado. Que resultaram em garantia de direito trabalhistas e melhorias nos setores previdenciários. Porém o que ele não conseguiu perceber foi que tanto a CUT como a Igreja progressista se apropriou da força sindical para disseminar sua doutrina, transformando o sindicado em um veículo para dominar os oprimidos. Não classificou como negativas as disputas sindicais pelo poder, que transformaram estes espaços em arenas de combate, e bases para seguir carreiras políticas. A doutrina católica impregnada na mentalidade do povo com tanta sutileza capaz reverter os princípios morais das comunidades locais. E por fim da aniquilação completa do verdadeiro sentido do sindicalismo, não deixaram nem resquícios dos valores anarquistas que criaram as bases sindicais.















Bibliografia:

ZANELLA, Anacleto. A trajetória do sindicalismo no Alto Uruguai gaúcho (1937-2003) Passo Fundo: UPF, 2004.





[1] Acadêmica do 5º semestre do curso de Licenciatura em História da UFFS/Erechim. Fev. 2012.
[2] Anacleto Zanella, mestre em História pela UPF. Foi presidente da CUT Alto Uruguai e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Erechim e Gaurama, além de Secretário em formação da CUT/RS. Vereador pelo PT em Erechim. Atualmente é Secretário da Educação em Erechim.
[3] Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora

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