Este blogue integra uma das ferramentas comunicacionais do Grupo de Pesquisa "Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes" da UFFS - Campus Erechim, do qual participam professores e acadêmicos dos cursos de Licenciatura em História, Geografia e Ciências Sociais. O mesmo desenvolve suas atividades em franco diálogo com o Grupo de Trabalho homônimo do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (CLACSO).
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Camaradas blogueir@s
Segue abaixo um link com uma entrevista da Butler sobre o anarquismo. Ela é a principal teórica dos estudos Queer. Vale a pena conferir!
http://periodicos.ufpb.br/ ojs2/index.php/ politicaetrabalho/article/ view/12860/7415
http://periodicos.ufpb.br/
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Salas para os Bolsistas
Gente amiga, a Camila já repassou as salas que foram reservadas para os bolsistas dos projetos relacionados ao GPASE até Julho. Na maioria dos dias ficou reservada a sala 02 ou 04 no seminário, no horário das 17h as 19h. Assim, a plaquinha de identificação do grupo tem que estar disponível para demarcar a sala da vez. Abraços e bons estudos e trabalhos.
MAIO
09 - não há sala disponível no campus
10 - Sala 04
11 - Sala 02 Anexo
16 - não há sala disponível no campus
17 - Sala 02 Anexo
18 - Sala 04
23 - Sala 02
24 - Sala 04
25 - Sala 01 Anexo
30 - Sala 04 - Até as 17h
31 - Sala 04
JUNHO
01 - Sala 03 Anexo
06 - Sala 02
07 - Sala 04
08 - Sala 02
13 - Sala 02
14 - Saça 04
15 - Sala 02
20 - Sala 02
21 - Sala 04
22 - Sala 01 Anexo
27 - Sala 04 - Até as 17h
28 - Sala 04
29 - Sala 01 Anexo
JULHO
04 - Sala 02
04 - Sala 02
05 - Sala 04
06 - Sala 03 Anexo
11 - Sala 02
12 - Sala 04
13 - Sala 02
segunda-feira, 30 de abril de 2012
RESSIGNIFICAÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DO
TRABALHO E MORADIA DOS CATADORES DE MATERIAL RECICLÁVEL
Matildes Regina
Pizzio Tomasi[1]
Rosana Scolari,
em seu trabalho de dissertação de mestrado pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, realiza uma pesquisa junto aos catadores de material reciclável
dos bairros Cristo Rei e Progresso da cidade de Erechim, RS. Com o objetivo de
verificar a importância da ressignificação da identidade através da
participação da ARCAN.[2]
E os benefícios que esta associação proporciona para uma população que se
encontra a margem da sociedade local. Dentre as situações analisadas pela
autora, estão às questões de uma inserção e adaptação a novas realidades, por
isso, ela trabalha com conceitos de território, lugar, cotidiano, moradia,
trabalho e economia solidária, que possibilitam satisfazer este conjunto como
um todo. Esclarecendo o significado de desterritorialização, territorialidade,
cidadania, exclusão/ inclusão social, solidariedade e identidade. E também a
prática de uma economia solidaria, como forma de inclusão e alternativa,
mediante a uma economia capitalista excludente. Utilizou para a realização
deste trabalho, questionário com associados da ARCAN e também com catadores
independestes, além de acompanhar de perto as atividades dos associados.
O trabalho da
autora consiste em entender a reprodução de vida no cotidiano que expressa o
interesse comum que organizou a associação dos catadores de Erechim, a ARCAN.
Traçar um perfil e procurar entender quem são estas pessoas que sobrevivem do
lixo, que compartilham sua cultura e pobreza. Compreender os paradigmas
sociais, nos quais esta gente tão fragilizadas, que buscam a inserção e
inclusão em uma sociedade que disfarçadamente a discrimina e dificulta sua
ascensão. Analisar o espaço onde vivem estes catadores, observando o seu
cotidiano e as relações que se desenvolvem nos locais de trabalho e
habitacionais. Neste contexto que se realizam os processos de
desterritorialização e consequentemente uma nova tentativa de readaptação em
outra dimensão social e espacial. É quando surge esta organização de pessoas de
diferentes grupos sociais, na busca de novos significados e alternativas na
qual eles possam ser inseridos, à economia solidária.
No primeiro
capítulo a autora trabalha com alguns conceitos que possam esclarecer e
explicar realidades adversas e suas formas de reprodução. Explicando a
importância que o trabalho, a moradia, o território e o lugar adquirem na vida
das pessoas. Como elas se identificam com determinados espaços, e os
significados que os mesmo representam. De como o sentimento de pertencimento a
algo é significativo e norteador a o sujeito. A necessidade de inclusão e
participação dignifica o ser humano. Assim como o trabalho e a moradia. A
criação da ARCAN e o que ela representa na vida de seus associados.
No segundo
capítulo a autora faz uma análise da agravação das dificuldades social no
sistema capitalista. Onde classifica a economia solidária como alternativa
viável de integrar a população excluída ao mercado de trabalho. Destaca que
este tipo de empreendimento necessita estar sempre em competição com o mercado
capitalista, o que se classifica como desvantagem ou menor oportunidade de
prosperidade. Faz uma comparação entre economia solidaria e economia capitalista
e destaca a eficiência do capitalismo em manter na economia a lógica da
acumulação.
No terceiro
capítulo ela trabalha a origem da ARCAN e as características de seus
associados, dos que trabalham na triagem e os que coletam material reciclável
nas ruas e também dos catadores independentes. Com destaque para a fragilidade
da identidade de seus associados e a importância do trabalho que executam.
Abordando as relações entre o poder público do município, os catadores e as
empresas de reciclagem. E também o trabalho do Padre Dirceu Benicá como
colaborador e mentor da ARCAN e do SEPO, por fornecer as bases teóricas da
economia solidaria, com a realização de cursos com base na educação popular.
O quarto
capítulo é uma abordagem sobre a moradia dos catadores, bem como as condições
destas habitações e como elas se constituem ou como se realizaram a ocupação
das mesmas. A solidariedade que acontece entre os catadores e como se
desenvolve o sentimento de pertencimento a um determinado lugar ou território.
E a participação do poder público municipal para melhorar as condições de
saneamento e higiene nestes locais.
O último
capítulo a autora exemplifica a sua teoria de que a ressignificação da
identidade se realiza através de uma territorialidade e na qual o sujeito possa
reconhecer-se como indivíduo e fazer parte deste quadro social, ser aceito em determinada realidade e
contexto.
A autora
conclui que a ARCAN trouxe outra perspectiva e contribuiu para elevar a autoestima,
assim como dignificou consideravelmente às relações entre os sujeitos sociais.
Reescreveu a história dos catadores e melhorou suas condições de vida e pode
integrar e absorver uma camada excluída da população erexinense. Que diante do
processo de exclusão, eles se encontram em uma relação de alienação diante da
realidade social da cidade de Erechim, pois só conseguem sentirem-se
descontraídos a partir do momento em que atravessam a BR e se encontram em nos
bairros Cristo Rei e Progresso. A crítica que ela faz é quando traça um
paralelo entre a ARCAN e as empresas de reciclagem que existem na cidade,
observa que a renda mensal das outras empresas e dos catadores independentes é
maior que a da ARCAN, por isso ela diz que eles não são muito dedicados a o
trabalho. Afirma também, que a solidariedade entre os catadores e a ajuda mútua
são fatores determinantes para assegurar o mínimo de bem estar e atender suas
necessidades básicas.
REFERÊNCIA:
SCOLARI,
Rosana Mary Dela Torre. Ressignificação
da identidade através do trabalho e moradias dos catadores de material
reciclável da associação de recicladores cidadãos amigos da natureza do
município de Erechim (RS). Porto Alegre: UFRGS, 2006.
sábado, 28 de abril de 2012
RESSURGIMENTO DO SINDICALISMO NO ALTO URUGUAI
RESSURGIMENTO DO SINDICALISMO NO ALTO URUGUAI
Matildes Regina Pizzio
Tomasi[1]
O
quarto capítulo da obra de Anacleto Zanella[2]
sobre o sindicalismo no alto Uruguai gaúcho, trata do ressurgimento a afirmação
do sindicalismo regional no período de 1978 a 1990. Destaca que a causa
principal deste ressurgimento é a conjuntura nacional com o enfraquecimento de
o governo militar, causado por uma grande crise econômica, geradora de um alto
índice inflacionário. O descontentamento do trabalhador diante de tais
acontecimentos fortaleceu o sindicalismo, pois era a única forma de reivindicação
disponível, tanto em nível nacional como regional. Assim como a forte
influência da Igreja Católica progressista, responsável pela formação de
lideranças sindicais.
O
Autor inicia o capítulo trazendo um apanhado geral da situação econômica nacional,
causadora de um arrocho salarial, contabilizando uma perda salarial de 34,1% em
1973. Que desencadeou no ressurgimento do movimento grevista a partir do ABC
paulista em 1978, atingindo nível nacional até 1980. Mas as manifestações
populares também exigiam algumas medidas no setor político, direcionando o país
a uma redemocratização e fim do regime militar, sobretudo a partir de 1983 com
a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que tinha o objetivo de
unificar as forças sindicais, fazendo oposição a Central Geral dos Trabalhadores
(CGT). Pois a CGT, antiga CONCLAT,[3]
desenvolvia uma atividade conciliadora, enquanto que CUT tinha um perfil
classista.
Na
região do Alto Uruguai as mudanças que ocorreram no sindicalismo, se deram graças
às ações da Igreja Católica Progressista, tanto no meio rural como no urbano,
que coordenou diversos trabalhos no sentido de orientar os fiéis em busca de
melhores condições de vida. Através das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs) e
da Teologia da Libertação, que se fundamenta em três princípios: Ver, julgar e
agir. Dentre as atividades da Igreja Católica estão vários desmembramentos, que
abrangeram toda a região do Alto Uruguai, como: Comissão Pastoral da Terra
(CPT); Pastoral da Juventude (PJ); Juventude Operária Católica (JOC); Pastoral
Operária (PO); Curso de Assessoramento de Jovens (CAJO); Treinamento de Ação Pastoral
(TAPA). A JOC e a ACO, Foram criadas em Erechim, na década de 70, por
intermédio do Padre Adelar de David e da Irmã Deonilse Rovani. Além desses,
outros grupos foram criados na região, como o Grupo Paulo VI, que deu origem à
luta contra as barragens; Esquema Dois em Passo Fundo; Escola de Servidores que
preparava lideranças comunitárias para toda a Diocese de Erechim, a esta escola
pertenceu Ivar Pavan. E as CEBs que apoiaram movimentos regionais como a
Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAL), de Mulheres Trabalhadoras
Rurais e o MST.
Segundo
o autor é neste período de surge um novo sindicalismo rural no Alto Uruguai no
qual ele destaca três fatores determinantes: “a liberalização política vivida
em todo o país, as mudanças estruturais na economia agrária do estado e seus
impactos sociais e a ação de setores progressistas da Igreja Católica”. (Zanella,
2004, p. 201). Destaca também os problemas enfrentados pelos trabalhadores
rurais que eram: “os baixos preços dos produtos agrícolas, a falta de
assistência médico-hospitalar, a falta de aposentadoria, a concentração de
renda e das propriedades no campo e o êxodo rural.” (Zanella, 2004, p. 202). Observa
que esta conjuntura social favoreceu o desenvolvimento de um novo sindicalismo,
pois o velho sistema não atendia mais as necessidades dos trabalhadores rurais,
por ser um sindicalismo de assistencialismo atrelado a o Estado.
Neste
contexto surgem novos ideais com disputas entre “vermelhos” e “pelegos”. Os “vermelhos” eram os sindicalistas ligados
a CUT e os “pelegos” os ligados a Fetag. O autor descreve as disputas
eleitorais entre ambos, com suas artimanhas políticas e a tomada do poder em
cada sindicato na região, com a maioria de sindicatos liderados por setores
ligados a CUT em 1990. O apoio da Igreja Católica progressista a os
sindicalistas da CUT, e a celebração de uma missa pela posse da diretoria do
STR de Erechim, na qual foi queimado um pelego simbolizando o fim do
sindicalismo atrelado a o Estado.
O
autor afirma que a predominância de lideres sindical vinculada a CUT beneficiou
positivamente as ações do sindicalismo rural na região, Pois somarem-se as manifestações
nacionais e se fortaleceram enquanto categoria. “Conquistaram direitos e foram
reconhecidos como sujeitos no processo de desenvolvimento regional.” (Zanella,
2004,p.210). Participaram ativamente de lutas por:
·
política
agrícola, com garantia de preço, crédito e seguro para a produção;
·
reforma
agrária com direito à terra para quem quisesse nela trabalhar;
·
contra
a construção de barragens no rio Uruguai;
·
a
luta em torno da produção e venda do leite;
·
saúde
pública, gratuita e de boa qualidade;
·
defesa
do direito à aposentadoria e ao salário-maternidade;
·
a
luta das mulheres trabalhadoras rurais pelo direito a sindicalização, ao talão
de produtor, à documentação, bem como a igualdade de gênero;
·
eleições
diretas para presidente da República”. (Zanella, 2004, p.210).
Com
estas lutas frequentes o STR conseguiu comprar o hospital de Aratiba, que
beneficiou os trabalhadores rurais locais. O que causou uma grande adesão ao
movimento sindical regional, quando em março de 1987 o STR conseguiu reunir
12.000 agricultores no maior protesto da categoria, da década, em Erechim. Que
motivou também os movimentos de mulheres trabalhadoras rurais, tais como o
Movimento da Mulher Camponesa ligado a Fetag e a Organização das Mulheres da
Roça, ligado a CUT, que em 1989 participou do processo de criação do Movimento
das Mulheres Trabalhadoras Rurais.
Neste
período também houve uma renovação no sindicalismo urbano, principalmente pela
ação da Igreja Católica Progressista com atuação intensiva através das CEBs. Zanella
destaca que o marco inicial desta mudança se deu com a paralização dos
professores estaduais em abril de 1979 e a criação do núcleo regional de CPERS
em junho do mesmo ano. Seguida da greve de trabalhadores nas indústrias de
Construção Civil e Mobiliário (1979) sobretudo os funcionários da Indústria
Madalozzo. E a greve dos bancários (1978/1979), na qual a categoria de Erechim
acompanhou a paralização em assembleia, mas não entrou em greve. A partir de 1983
com a formação da CUT, começa a disseminar campanhas de adesão na região e as primeiras
adesões a CUT são as do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação,
no qual Anacleto Zanella era integrante e do 15º Núcleo do CPERS. Surge também a Equipe Sindical Urbana da CUT
(ESUC) que resultou na formação de lideranças sindicais e apoiou a criação de
novos sindicatos: Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Erechim e o
Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde. Que se somaram as lutas
sindicais urbanas regionais, que reivindicavam:
“[...]
as campanhas salariais das diversas categorias de trabalhadores, o cumprimento
de acordos coletivos de trabalho e da legislação trabalhista, a garantia do
pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade, a manutenção a
ampliação dos direitos sociais trabalhistas no processo constituinte, saúde
pública, gratuita e de boa qualidade, direito a aposentadoria especial,
melhoria e cumprimento do plano de carreira, melhores condições de trabalho,
liberdade e autonomia sindical e eleições diretas para presidente da
República.” (Zanella,2004, p.233).
Porém
com número menor de greves no setor privado, em relação ao público, devido a o
medo que o trabalhador tinha de perder o emprego, pois perderam a estabilidade
durante o governo militar. E por serem empresas de pequeno e médio porte,
favorecia a uma relação amistosa entre os funcionários e os empregadores. Portanto
as maiores paralizações aconteceram durante as greves gerais.
O
autor conclui com uma avaliação muito positiva a ação sindical regional deste
período. No qual as influências da Igreja progressista e da CUT, favoreceram
para intensificar e estimular a participação popular e libertar o sindicato do
atrelamento ao Estado. Que resultaram em garantia de direito trabalhistas e
melhorias nos setores previdenciários. Porém o que ele não conseguiu perceber
foi que tanto a CUT como a Igreja progressista se apropriou da força sindical
para disseminar sua doutrina, transformando o sindicado em um veículo para
dominar os oprimidos. Não classificou como negativas as disputas sindicais pelo
poder, que transformaram estes espaços em arenas de combate, e bases para
seguir carreiras políticas. A doutrina católica impregnada na mentalidade do
povo com tanta sutileza capaz reverter os princípios morais das comunidades
locais. E por fim da aniquilação completa do verdadeiro sentido do
sindicalismo, não deixaram nem resquícios dos valores anarquistas que criaram
as bases sindicais.
Bibliografia:
ZANELLA, Anacleto. A
trajetória do sindicalismo no Alto Uruguai gaúcho (1937-2003) Passo Fundo:
UPF, 2004.
[1]
Acadêmica do 5º semestre do curso de Licenciatura em História da UFFS/Erechim.
Fev. 2012.
[2]
Anacleto Zanella, mestre em História pela UPF. Foi presidente da CUT Alto
Uruguai e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de
Erechim e Gaurama, além de Secretário em formação da CUT/RS. Vereador pelo PT
em Erechim. Atualmente é Secretário da Educação em Erechim.
[3]
Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora
sexta-feira, 27 de abril de 2012
EDUCAÇÃO POPULAR: UMA PROPOSTA DE RESISTÊNCIA?
A HISTÓRIA A AS AÇÕES EDUCATIVAS DAS
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E POPULARES DA CIDADE DE ERECHIM / RS
Sian Carlos Alegre1
Os autores iniciam o livro tratando da
Educação Popular na América Latina, onde nasce sob uma pratica
politica a serviço das classes populares, buscando outra forma de
educação, não vista na escola. Assim, a Educação Popular tem a
intenção de contribuir para formação de uma consciência
politica, que faça com que as pessoas se libertem desta situação,
e busquem sua autonomia. No Brasil, a Educação Popular chega como
uma resposta ao desenvolvimento dos movimentos sociais. A parir de
1960, a Educação Popular pode ser vista em três momentos:
Primeiramente a Educação popular como Alfabetização (década de
60); Segundo a Educação Popular como Consciência Política e
Consciência de Classe (década de 70 e 80); Um terceiro momento é a
Educação popular como Construtora de paradigmas e do Projeto
Político (a partir da década de 90); A Educação popular passa a
representar uma prática libertadora, que ajuda na conscientização
da real situação de pobreza em que boa parte das pessoas se
encontra. Segundo os autores, ela apresenta um esforço para
mobilização e organização da população, o que a torna popular é
a sua concepção de construção de sociedade. A Educação Popular
caracteriza-se por: ser uma prática educativa a serviço da
emancipação das classes populares; contribuir para a transformação
da sociedade capitalista para uma que de voz as classes populares;
educar para a democracia e ser uma ferramenta na organização das
classes populares. São
as organizações pesquisadas: Organização
sindical, Cooperativismo, Movimento Social Popular e Entidades
Populares. Organização
Sindical Rural – fundado em
1962 tem como proposição lutar pelos direitos dos pequenos e médios
produtores rurais. Inicialmente mantinham um caráter
assistencialista, mas a partir de 1980 inserem-se no novo
sindicalismo, reorganizando sua atuação. Organiza-se em Assembléia
geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria. Mantém
relações com o movimento popular e outros sindicatos. Suas ações
consistem em: prestação de serviço; lutas sociais e econômicas;
experiência de produção alternativa nas pequenas comunidades;
constante informação aos seus membros (programas de radio, boletim
informativo); campanhas de sindicalização; organização de base.
Para este sindicato a educação popular consiste em utilizar a sua
realidade como princípio. Organização
Sindical Urbana – sua fundação
é resultado da articulação de trabalhadores de varias categorias.
Sua finalidade de fundação é: congregação de trabalhadores,
reivindicação e soma de forças populares; lutas por direitos
sociais e interesses comuns. Segundo os autores, é possível ver
três fases em sua história: Fase de Oposição Sindical (1979 a
1985); a Fase de Lutas (1986 a 1988); Fase de Consolidação (1989
aos dias atuais. Organizam-se em Assembléia Geral, Conselho
Deliberativo, Conselho Fiscal, Diretoria e Diretoria Executiva. Suas
relações compreendem: relação com a categoria; com a classe
patronal; com outros sindicatos; com poder público; com o CEPO e com
população em geral. Dentre as ações educativas, destaca-se: as
lutas sócias e trabalhistas e a mudança estrutural da sociedade; a
consciência do sindicato como instrumento de luta e a organização
sindical na base. Para as Organizações Sindicais Urbanas o projeto
de sociedade está baseado na justiça, igualdade, participação e
na democracia. Cooperativismo–
as cooperativas surgem do princípio de cooperação e organização
de todos os associados. As cooperativas estudas em Erechim foram a
Cooperativa de Eletrificação rural do Alto Uruguai Ltda. –
CRERAL, criada em 1969 e a Cooperativa dos Produtores Rurais do Alto
Uruguai Ltda. – COPERAL, fundada em 1993. A CRERAL é criada para
levar luz elétrica ás propriedades rurais e comunidades. Já a
COPERAL, é fundada para estabelecer um novo modo de cooperativismo,
buscado defender os direitos dos agricultores e suas necessidades
mais primarias. Ambas as cooperativas organizam-se em Assembléia
Geral, Conselho Fiscal e Administrativo. Estas se relacionam com o
movimento popular e sindical, com o CEPO, CAPA e o CETAP. A CRERAL
ainda mantém uma relação com o estado, a fim de negociar o custo
da energia. A CRERAL desenvolve atividades como: conscientização
sobre a atuação da Cooperativa e capacitação para formação de
lideranças. Já a COPERAL, destaca-se: a discussão das linhas
políticas e o modo de trabalho, através de assembléias regionais e
municipais; reuniões nas comunidades rurais e a capacitação de
lideranças. Para a CRERAL, a educação popular contribui para a
pessoa ver a sua realidade tal qual ela é, consolidando-se no
cotidiano. Já para a COPERAL, a educação popular é outra forma de
educar, com uma proposta política administrativa econômica e social
de educação. Para ambas as cooperativas, o modelo de sociedade
baseia-se na democracia, justiça e igualdade, com justa distribuição
de renda, se explorados e com trabalho para todos. Movimento Social Popular- Nesse item, os
autores destacaram a Comissão Regional de Atingidos por Barragens –
CRAB, criada em 1979, a União das Associações de Moradores de
Erechim – UAME, fundada em 1990 e o Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais – M.M.T.R/ Alto Uruguai, fundado em 1984. O
CRAB inicia sua trajetória apenas com a prestação de serviços aos
atingidos, posteriormente aumenta sua abrangência, incluindo todos
os agricultores do Alto Uruguai. Trabalha com a formação de
lideranças, reuniões nas comunidades e distribuição de boletins
informativos. O M.M.T.R. inicia-se com apenas reivindicações,
posteriormente busca a inserção da mulher trabalhadora rural nos
espaços sociais e nas lutas sociais. Também passam a trabalhar
questões de gênero e do processo educativo nas famílias, com
intenção de inserir a mulher na administração da propriedade. A
UAME inicia suas atividades com característica assistencial e
cadastramento de famílias com problemas sócias e consequente
visitados membros diretores. O CRAB organiza-se através de
Assembléia geral, Coordenação Geral, Executiva Geral, Executivas
Regionais e as Equipes de Trabalho. Já o M.M.T.R. divide-se em
Assembléia Estadual, Direção e Executiva Estadual, Direção e
Executiva Regional, Direção Executiva Municipal e grupo de Mulheres
por Comunidade. O UAME está organizado em Assembléia Geral,
Diretoria e Presidência das Associações de Moradores dos bairros.
Entre as relações estabelecidas, o CRAB mantém com a ELETROSUL,
Prefeitura Municipais e a população em geral. O M.M.T.R. mantém
relações com o movimento sindical, a CRAB, igrejas, CEPO e uma
relação de confrontamento com o poder público. Já a UAME,
estabelece relações com a Prefeitura de Erechim, Associações de
Moradores de Paulo Bento. Dentre as ações dos movimentos
destaca-se, CRAB: Assembléias para estabelecer o dialogo com a
ELETROSUL; mobilização no dia Nacional de Luta contra a Barragem,;
acampamento e ocupação da sede de ELETROSUL e audiência com as
autoridades. O M.M.T.R. desenvolve atividades como; programas de
rádio, incentivar a documentação da s mulheres; campanha contra a
violência e educação sexista; formação na área da saúde,
política, sexualidade e afetividade; A UAME movimenta-se por:
participação no Conselho Municipal de Saúde; legalização dos
terrenos nos bairros; atendimento de urgência ante a catástrofes;
auxilio a pessoas carentes, campanha do agasalho; melhoria na
infra-estrutura dos bairros.O CRAB vê a educação popular como meio
para a formação critica do sujeito e sua autonomia, a prática e a
reflexão são a forma de buscá-la. Para o M.M.T.R. a educação
popular vislumbra a realidade, buscando mudanças na própria relação
familiar. Já para a UAME, a educação popular caracteriza-se pela
humanização das pessoas e busca por seus direitos. O CRAB e o
M.M.T.R. tem um projeto de sociedade socialista, pautado na justiça
e democracia, para além dessas questões o M.M.T.R. busca uma
alteração nas relações de gênero. A UAME afirma a necessidade de
uma sociedade com diminuição da fome e sem crianças na rua.
Entidades Populares-
para tal fim, os autores pesquisaram o Centro de Educação Popular –
CEPO e a Obra Promocional Santa Marta. O CEPO surge com a finalidade
de ser um apoio e acessória as Organizações Sociais Populares,
inicialmente com uma ênfase assistencialista, a partir de 1991 passa
a seguir na linha da educação popular. A Obra P. Santa Marta surge
com a intenção de tirar as crianças das ruas. Suas ações inicia
com o uma constatação do numero de crianças pedintes nas ruas,
posteriormente realizam uma conscientização da comunidade para o
fim da esmola. Em 1992 a coordenação da obra é transferida da
ordem religiosa para o popular. O CEPO e a Obra P. Santa Marta
organizam-se em Assembléia Geral, por um Colegiado – que no CEPO
são onze sócios e na Obra é formado pela diretoria e
representantes das crianças e adolescentes – e por uma Diretoria.
O CEPO estabelece relações com outras Organizações Sociais e
Populares nacionais e internacionais, ONGs nacionais, universidades e
escolas e instancias formal do Estado. Já a Obra Santa Marta, mantém
relações como poder público municipal, com o CEPO, com a COMDICAE,
Conselho Tutelar. As ações educativas que o CEPO desenvolve, é a
partir da educação popular e desenvolvimento na região, para tal
fim, desenvolve cinco programas de trabalho: a Produção
e Trabalho; Políticas
Sociais Públicas; Cultura
e Organização Social;
Documentação e Elaboração;
Política Institucional e
Prestação de Serviços. Na
Obra P. Santa Marta, as ações educativas estão organizadas em
programas: ações sócio-educativas; intercâmbio das experiências
de trabalho com as crianças e adolescentes; discussões com a
sociedade sobre os direitos da criança e adolescente; formação e
aprimoramento pedagógico dos educadores; orientações
sócio-familiar, com visitas nas residências e reuniões com a
família. Para o CEPO, a educação popular é uma pratica social e a
produção coletiva do conhecimento, visando à conscientização das
classes populares como sujeitos históricos para a criação de um
projeto de sociedade alternativo. Na Obra Santa marta, a educação
popular é entendida como a prática sócio-educativa que desenvolva
na pessoa o sujeito-cidadão. Para ambas as instituições, o projeto
de sociedade deve manter princípios de solidariedade, igualdade,
democracia e diversidade. De
acordo com os autores, as Organizações Sociais e Populares são
algo complexo e dinâmico, sendo que é necessário que tematizar
suas histórias e experiência para assegurar seu avanço
organizativo. O conhecimento nas organizações está diretamente
ligado a realidade e alicerçada na prática coletiva e troca de
experiências e, consequentemente a produção de novos
conhecimentos. A metodologia das ações educativas apresenta um
caráter dialético, visto que suas ações são sobre a realidade,
com situações-problema em um complexo global. Porém, apresentam
resultados como o surgimento de dirigentes e militantes combativos,
mobilização e organização da base, relações sociais
democráticas e solidárias. Nesse sentido, a educação popular
juntamente com essa concepção metodológica dialética acaba por
possibilitar o surgimento de sujeitos autônomos reflexivos e que
atue intervindo na sociedade. Para todas
as organizações pesquisadas, a educação popular é vista como
meio para a libertação das classes populares e sua conscientização
de protagonistas de seu processo histórico e social. Por fim, os
autores vêem que as Organizações Sociais Populares apresentam-se
como uma proposta para a superação da sociedade capitalista, seus
sujeitos são vistos como esperança para a concretização de outro
projeto de sociedade, tendo a educação popular como grande
alicerce.
Se entendermos que vivemos em uma sociedade preponderantemente desigual, que dia a dia promove e perpetua miséria, entenderemos também que a resistência a ela é algo inerente a si. Para tanto, a educação popular apresenta-se como numa das formas de resistências, luta e proposta de outra sociedade - proposta essa inclusa em sua gênese.
REFERÊNCIAS
NOGARO, Arnaldo; PIRAN, Gestine Cássia
Trindade; ZAFFARI, Nely. A história e as ações educativas das
organizações sociais populares da cidade de Erechim/RS. Erechim:
São Cristóvão, 1996.
1
Acadêmico do curso de Geografia da UFFS – campus Erechim –
sian.pk@gmail.com
ÁGUAS, TERRITÓRIOS E CONFLITOS: (DES) AFOGANDO SONHOS
ENERGIA
E CIDANIA
- A luta dos atingidos por barragens
No decorre da história do
homem, as barragens foram ganhando importância fundamental para o
progresso humano, fato esse que ganha força com a Revolução
Industrial e a crescente necessidade por energia. O problema
energético brasileiro está no fato de que o modelo adotado apenas
beneficia os poderosos, visto que o governo está submisso ao mando
de empresas.
As
consequências das UHE quase nunca são pensadas e reparadas
efetivamente. As transformações ao lugar são as mais diversas:
inchamento populacional, aumento na natalidade, consumo de drogas,
desestruturação familiar, criminalidade. Ainda, a que se considerar
as questões identitárias, em que muitas pessoas mantém um apelo
simbólico para com o lugar, nesse caso, transtornos psíquicos são
comuns, já que estas não conseguem identificar-se com a nova
moradia. Assim, para o MAB, as UHE constituem-se uma ameaça desde
seu planejamento até muito tempo após seu funcionamento. Os
impactos aos atingidos são materiais e imateriais.
Dentre as
formas utilizadas para a concretude das UHE, destaca-se a violência
simbólica
(BOURDIE 2007), segundo o autor, é quando o discurso dominante é
aceito como legitimo pelos dominados, sem que percebam. Nessa lógica,
a persuasão para a construção das UHE é essencial. Para tal fim,
“(...) utilizam linguagem técnica de difícil compreensão,
realizam intensa propaganda sobre os benefícios do empreendimento,
disseminam informações imprecisas ou desencontradas.” (BENINCÁ,
p. 61). A partir dos anos de 1970 é que o Brasil inicia um plano
desenvolvimentista, que respectivamente acaba por determinar o modelo
energético ao qual tratamos aqui. Com o governo de Emílio
Garrastazu Médici (1969 – 1974), o país viveu o período
conhecido como “milagre econômico”. Nesse momento o país
destacava-se por investimentos do capital estrangeiro, empréstimos
facilitados no exterior, alta nas exportações e baixas taxas de
inflação. A partir de 1974 o “milagre econômico” começa ter
seu fim. O Brasil torna-se refém de políticas internas, devido a
sua divida internacional. Se por um lado a tinha-se a proliferação
de problemas sociais, por outro, tais condições foram fundamentais
na organização e resistência da sociedade civil. Com o fim do
regime militar, a esquerda no Brasil começa a ter maior
movimentação, destacando-se o movimento sindical, comunidades
eclesiais de base, movimento político e movimentos populares. Em
1980 é fundado o Partido dos Trabalhadores (PT), congregando e
combinando suas forças e atuações juntas a movimentos sociais. Ao
final da década de 1970 e inicio de 1980, inicia-se entre os
atingidos uma organização, esta faz-se em três regiões: Região
Sul,
Região,
Região Norte.
Identidade,
organização e diretrizes do MAB- Para
se constituir a identidade de uma organização, é necessário que
haja uma identidade coletiva, ideais em comum, enfim, uma causa em
comum. As partes que constituem o MAB são: “camponeses,
trabalhadores rurais, ribeirinhos, quilombolas, indígenas,
populações urbanas e outros que pertencem a grupos sociais
inferiorizados e invisibilizados.” (BENINCÁ, p. 94). O MAB é um
movimento social do campo que apresenta uma enorme diversidade. Cada
organização pode apresentar formas distintas resistência às
barragens. Alguns atingidos se organizam durantes o planejamento da
obra, ao passo que outros organizam-se após começar a obra ou mesmo
depois de estar em funcionamento. Dentre os principais objetivos do
MAB estão: “resistir
contra a construção de barragens que provoquem danos sociais e
ambientais; lutar para que nenhuma barragem seja construída sem
acordo com a população; defender a permanência do povo na terra;
reivindicar garantia de justa indenização ou reassentamento aos
atingidos; proporcionar formação aos integrantes do Movimento;
ampliar o número de militantes; discutir e propor um novo projeto
energético para o país que garanta, entre outros itens, utilização
de fontes alternativas de geração, acesso à energia para todos,
com tarifas populares para os consumidores familiares.”
(BENINCÁ, p. 1000, grifo meu). Ainda, o MAB posiciona-se contra a
“(...) privatização do setor elétrico, e defende que a energia e
os recursos hídricos sejam controlados democraticamente pelos
trabalhadores. Combate o desenvolvimento capitalista e propugna pela
implantação de outro sistema social identificado com o socialismo.”
(BENINCÁ, p. 100). O MAB organiza-se em grupos de base, que
consistem em cinco ou dez famílias. Para cada grupo de base a um
coordenador e uma coordenadora, sendo que entre eles é indicado os
membros da coordenação municipal. Dentro desta, é extraído alguns
para e coordenação regional, da regional sai nomes para a estadual
e desta para a nacional. Há ainda uma direção que desmembra-se em
grupos, estes tem o trabalho de encaminhar trabalhos mais
específicos. Seu órgão máximo é o congresso nacional, este
ocorre a cada três anos.
De acordo
com Benincá, o MAB apresenta três grandes momentos em sua história:
Primeira fase
– ao fim
de 1970 a 1991 tem-se a gestação do movimento, em que as
experiências regionais foram fundamentais para organização da luta
contra as barragens. Surgem às bases para dar inicio ao movimento. É
nesse momento que o MAB começa a atentar para as questões
ambientais na luta de seus direitos. Segunda
fase – esta
fase vai de 1991 até 2002, é nesse período que o MAB expande suas
ações ao nível nacional, assim como, o diálogo como outros
movimentos no país e fora deste. Outra ação do movimento foi o de
questionar com maior tenacidade a matriz a energética brasileira, e
a forçar a busca por outras fontes de energia Nesse contexto,
segundo Benincá, o MAB caracteriza-se por duas frentes de lutas: a
de resistência
para manter
a população rural e seus direitos e a luta propositiva,
em que
buscam alternativas ao modelo energético brasileiro. Terceira
fase –
inicia-se em 2003, nesse momento tem-se a posse do então presidente
Lula, expectativas de boas novas para alguns e decepção futura para
outros. Com isso, o MAB aumenta sua ênfase ao alcance de uma
democracia participativa. O movimento também vem intensificando as
discussões sobre o modelo energético do país, assim como na busca
pela tarifa social, desta forma, opondo-se a organização
capitalista. BENINCÁ
(2011) demonstra no posicionamento do MAB, a crítica à lógica
consumista, de onde advém o questionamento: energia para quem e para
que. Podemos ressaltar ainda, que o MAB tem interesse de avanço nas
questões de democracia, cidadania, justiça, e a criação de outro
projeto energético, que por sua vez necessita de um novo modelo
social, político e ecológico. Entre
as proposições, destacam-se a defesa de uma globalização
contra-hegemônica, baseada em princípios de solidariedade,
cooperação, equidade. As resistências centram-se em protestos,
marchas, na busca de amparo jurídico, e também na arte, além das
denuncias midiáticas. O MAB é acusado ainda, de bloquear o
desenvolvimento econômico e perturbar a ordem social, mesmo tendo em
vista seu objetivo de defender a água e energia como direitos
fundamentais a população. As conquistas do MAB centram-se no atraso
ou desistência na construção de usinas. Mas, tendo na utopia um
fator fundamental, o MAB continua sua luta em defesa da vida.
REFERÊNCIAS
BENINCÁ,
Dirceu. Energia e cidadania: a
luta dos atingidos por barragens. São
Paulo: Cortez, 2011.
1Acadêmica
do curso de História da UFFS – Campus Erechim -
angelica.rossi.uffs@gmail.com
2Acadêmico
do curso de Geografia da UFFS – Campus Erechim –
sian.pk@gmail.com
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Estágio Interdisciplinar de Vivência: o conhecimento como prática (r)evolucionária
Vinícius
Fruscalso Maciel de Oliveira¹
Companheiros:
é com muita satisfação que lhes escrevo este texto para falar
sobre o IX EIV Santa Maria – RS, que foi realizado entre os dias 01
e 22 de fevereiro de 2012, em áreas de assentamentos do MST no
estado do Rio Grande do Sul. Quem organiza o estágio é uma comissão
formada por acadêmicos da UFSM e que se renova a cada ano, assim
como os estagiários (que não precisam ser necessariamente
estudantes da UFSM). O estágio sempre é dividido em três períodos:
preparação, vivência e avaliação.
A parte da
preparação teve início no dia 02/02 e término dia 06/02. Nessa
primeira etapa aconteceu uma preparação “teórica”, na qual
foi-se abordado temas como: estrutura da sociedade capitalista,
questão agrária, questão indígena, questão quilombola, gênero,
modelos de desenvolvimento entre outros através de filmes, debates,
palestras e místicas. Tudo isso para os estagiários entenderem o
que é o MST, quais suas bandeiras, suas complexidades, suas
contradições e acima de tudo para entendermos como funciona a
sociedade em que vivemos. Certamente sem essa preparação o EIV
ficaria incompleto e com uma certa ausência de sentido. O estagiário
precisa saber exatamente o que está fazendo ali.
As
vivências começaram dia 08/02 e terminaram dia 16/02. Nesse
período, cada estágiário ficou em um assentamento diferente, em
diferentes cidades do estado do RS. Fiquei na cidade de Candiota, no
sul do estado e tomei um choque de realidade: somente em Candiota
existem 27 assentamentos, o que ilustra bem o tamanho da desigualdade
de terras da região Sul do Estado. Cada família Sem-Terra possui
aproximadamente 20 hectares de terra e poucas possuem implementos
agrícolas que atendam as suas necessidades. A maioria dos
agricultores possuem vínculo com a Bionatur, que é uma cooperativa
de sementes agroecológicas.
Percebi em
grande parte dos assentados uma espécie de “germe” de
comunismo/anarquismo inconsciente, através de frases como: “Aqui a
gente se governa”, “Aqui se tem liberdade”, “Sou meu próprio
patrão”. E um apego à terra conquistada impressionante que gerava
frases como “Só saio daqui dentro de um caixão”. Além de um
sentimento de orgulho muito grande de ser protagonista da própria
história, de ter lutado e conseguido melhorar de vida. Mas é claro
que nem tudo são rosas, e existem muitos problemas nos quatro
assentamentos que visitei em Candiota. Porém, o que me espantou foi
a tranquilidade dos assentados para falar sobre os problemas. Fazem
questão de contar a quem é de fora do assentamento. Os problemas
mais citados foram a questão da falta de estrutura na parte da
saúde, falta de crédito para financiamento da safra e de
implementos agrícolas, arrendamentos de terra por uma minoria dos
assentados e descaso dos governos para com os assentados.
A avaliação
iniciou dia 18/02 e encerrou dia 21/02. Nesse tempo, foi socializado
as vivências de cada um dos estagiários, para se retirar algum tipo
de encaminhamento/conclusão. Além disso, foram tratados temas como
desafios da reforma agrária, sociedade e universidade, juventude,
movimento estudantil. Também realizou-se no último dia (21/02) uma
visita a um acampamento do MST na cidade de Julio de Castilhos, na
qual infelizmente não pude estar presente.
Viu-se
claramente um amadurecimento teórico/intelectual de todos os
estagiários, mas principalmente daqueles que não eram acadêmicos
de cursos ditos “humanos”. Para aqueles que nomes como Marx,
Hegel, Engels, Kropotkin assim como conceitos como mais-valia,
dialética e força de trabalho eram desconhecidos. E essa mudança
tem desdobramentos práticos como a valorização do trabalho
coletivo, respeito ao próximo, preocupação com o bem-estar social,
entre outros. Enfim, pode-se afirmar que o Estágio Interdisciplinar
de Vivência muda a vida dos estagiários e sua visão de mundo. E é
transformando as pessoas e unindo-as que se revoluciona a realidade.
¹Acadêmico do curso de Licenciatura
em História pela UFFS – Campus Erechim. vinimisura@gmail.com
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