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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

DEMOCRACIA E AUTOGESTÃO: oposição ou afinidade?

Zênio Schuquel Marques
Acadêmica do 4º semestre do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais
UFFS - Campus de Erechim

Esse trabalho é uma tentativa de abordar de forma resumida e sem intenção alguma de estabelecer limites em relação ao assunto. Mas sim buscar abranger e trazer elementos para reflexão a partir do artigo do professor Nildo Viana “Democracia e Autogestão” fazendo uma associação com o filme “La Cecília”. A abordagem aqui pretendia é distinguir de uma forma mais objetiva o que vem a ser democracia e autogestão. Com elementos da experiência anarquista no Brasil que o filme revela o texto objetiva pensarmos se esses dois termos se associam ou se divergem. Ou se é capaz de existirem essas duas formas de organização da sociedade num mesmo espaço?
No seu artigo, Viana apresenta seu próprio conceito de democracia. Onde define que a democracia tem sofrido mudanças historicamente, mas a que ele considera de fato é o resultado das revoluções burguesas. Tendo como principal característica a “representação”, por isso chamada democracia representativa. No início essa representação era facultada aquelas pessoas de tinham uma melhor renda. Com a mobilização dos operários que passaram a lutar e se organizar a democracia, que posterior à segunda guerra mundial, se torna bem mais burocrático.
A democracia para Viana, no Estado capitalista se torna uma forma de relação entre classes sociais e o próprio estado. Porém as classes sociais tinham limites na representação e participação no governo. O benefício maior era da classe dominante, não fazendo jus, segundo o autor a expressão “governo do povo”. Os seus alicerces estão à exploração e a divisão de classes com o Estado garantindo essa continuidade de domínio do capital burguês.
Para o sistema de autogestão, Viana apresenta a tese de Marx, que defendia o Estado socialista. Sendo a base desse Estado à transição do capitalismo ao comunismo. Num primeiro momento não existiria a abolição do estado. O estado comandaria a economia, mantendo o trabalho assalariado e o dinheiro. Esse período é a transição do capitalismo e comunismo denominado “socialismo”.
O conceito do próprio Viana aponta que não há nenhuma experiência autogestionária que tenha existido historicamente. O que o autor coloca que pode ser comparado autogestão com alguns outras organizações, como exemplo as cooperativas. Defende que numa sociedade futura esse conceito de autogestão seria o modelo ideal, porém “imcompatível com relações sociais capitalistas”. Por esse motivo autogestão é “distinta e imcompatível com democracia representativa”. (Viana, p. 70)
Segundo o filme “La Cecília” o Brasil vivenciou uma experiência “anarquista”, num regime imperial, o imperador D. Pedro II, devido um problema de saúde viajou para Milão para tratamento médico onde encontrou o agrônomo Giovani Rossi, que tinha escrito um romance, onde indivíduos conviviam em liberdade, sem a existência de leis e sem precisar a obedecer a comandantes. Foi então que D. Pedro II convidou o Rossi para implantar sua idéia no Brasil.
Em 1889, que Rossi chega ao Brasil trazendo consigo mais cento e cinqüenta imigrantes italianos. O grupo formados por colonos e pequenos artesão se instalam no Paraná, formando a colônia de Cecília. Com todas as dificuldades de transferências de nação e leis de um governo recém estabelecido o grupo começa a organizar-se para o trabalho. Com o ideário anarquista, enfrentaram dificuldades dentro do grupo, ate os próprios colonos devido a mudança de solos. Mesmo com uma organização que favorecia a coletividade os moradores da colônia mantinham contatos comerciais com as comunidades vizinhas.
No período imperial a política de D.Pedro II, incentivava através de recursos financeiros as colônias de imigrantes. Muitos chefes de colônias sem conhecimentos das leis tiveram que pagar as divida com a pressão de autoridades, na maioria dos casos com juros e multas as dívidas. Esse foi um dos problemas que a colônia de Cecília enfrentou. Com uma produção razoável nos primeiros anos, colonos vivenciavam oportunidades de trabalhos com melhores condições de vidas nas comunidades vizinhas, aos poucos a colônia de Cecília foi sendo abandonada.
Se considerar que a experiência no Brasil do anarquismo, como forma de uma sociedade se auto gerir, não foi um fracasso geral. Rossi trouxe para o país um novo modelo que ate os dias de hoje é alvo de estudos por parte de muitos autores e pesquisadores. Atualmente a experiência de Rossi é parâmetro para muitos movimentos operários.
Analisando a colônia de Cecília, se evidência as dificuldades enfrentadas pelos membros da sociedade anarquista tendo que conviver com as crises internas do grupo e enfrentando repressões por parte de governo e do estado brasileiro. Se verifica o que Viana enfatiza em seu artigo a imcompatibilidade entre sociedade com representação e interesses de alguns com uma sociedade onde todos os que compõe teriam direito de poder expressar suas opiniões. Essa comparação faz refletir a opinião do autor que não existiu nenhum modelo de autogestão, isso somente será possível com uma revolução das classes trabalhadora e uma nova forma de auto organização, o que é seria um “modelo atual” no futuro.


Referências Bibliográficas

1.VIANA, Nildo. Democracia e Autogestão. S.d. Disponível em: <www.achegas.net/numero/37/nildo_37.pdf>

2.LA CECILIA. Direção de Jean – Louis Comolli. Une Co-Production. 01h44min: 00

Um comentário:

  1. O texto atinge o seu objetivo de nos fazer refletir sobre democracia e autogestão. A democracia representativa como a existente hoje não se insere no modelo de autogestão tal qual compreende Viana – uma democracia direta. O modelo de autogestão na Colônia Cecília, em abril de 1890 vivenciado pelos imigrantes italianos foi de muita luta e sonhos em ver um modelo de sociedade mais justa concretizada. A Colônia Cecília foi um modelo de manifestação anarquista no Brasil, outras colônias poderão surgir o que requer uma dose de coragem e determinação, na qual através da autogestão, homens e mulheres serão responsáveis por mudar a sua história.

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