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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

GERMES PARA UMA SUBVERSÃO SOCIAL: DEMOCRACIA DIRETA E AUTOGESTÃO

Sian Carlos Alegre
Acadêmico do 4° semestre do Curso de Geografia – Licenciatura
UFFS – Campus de Erechim
Pensar a democracia e a autogestão, nos remete primeiramente, buscarmos uma definição conceitual para ambos os termos. A democracia que vivemos atualmente, ou a que se tem na maior parte do planeta, é o que se chama de democracia representativa, ou seja, algumas pessoas são eleitas, de forma “democrática”, para nos representarem perante uma instituição maior chamada de Estado. Compreendendo a instituição Estado Moderno, como fruto da Revolução Francesa (que de fato foi uma revolução burguesa), este é a expressão dos interesses de uma classe dominante (p. 63), que no caso é a classe burguesa, o que faz da democracia representativa uma política burguesa voltada aos seus interesses. Em suma, pode se dizer que a democracia hoje, acaba por condicionar a uma sociedade heterônoma. Porém, essa não é a única forma democracia existente/possível. Para aqueles que buscam pensar para além da representatividade, há de se considerar a democracia direta. Dentro dessa perspectiva, todos os envolvidos têm igual poder de voz e voto, a todos é oportunizada a possibilidade de serem protagonistas de suas vidas, sem relegar a outro a sua vontade, sem heteronomia. Já buscando compreender a autogestão, Viana afirma que “A autogestão é uma relação de produção que se generaliza e expande para todas as outras esferas da vida social.” (p. 67). Não só limitando-se as relações de produção, Viana também busca pensa – lá diretamente para o meio das relações sociais, já que, segundo ele, “Todo modo de produção possui uma determinação fundamental que é expressa pelo conceito de relações de produção e que serve de fundamento para todas as relações sociais.” (p. 65). Sendo assim, se a determinação do modo de produção for o da autogestão (p. 66), ela irá para além da própria produção, pois, "A autogestão significa que os próprios ‘produtores associados’ dirigem sua atividade e o produto dela derivado. Abole-se, assim, o estado, a democracia representativa, as classes sociais, o mercado, etc., [...]" (p. 67).
Deste modo, pode-se conceber uma autogestão social (p.67). Já buscando pensar esses dois termos a partir do filme La Cecília, em que se tenta retratar a instalação de uma colônia anarquista no que condiz ao atual estado do Paraná, em 1887, através de um grupo de imigrantes italianos, veê-se que, de acordo com o filme, as decisões acerca da gestão da colônia, davam-se de forma horizontal, em que todos se expressavam e votavam em igualdade. O trabalho coletivo frente às demandas que surgiam, também demonstra a abolição de hierarquias, já que todos contribuíam para a construção da colônia, não havendo patrão entre eles. Ao tentarmos estabelecer um diálogo entre o filme La Cecília e o texto de Nildo Viana “Democracia e Autogestão”, é possível ver algumas aproximações quanto à democracia e a autogestão que se fazia presente na colônia Cecília. Ao final de seu texto, Viana afirma que a autogestão é incompatível com a democracia representativa (p. 70). O que nos remete a considerar como alternativa para a autogestão, a democracia direta, a participação efetiva de todos os envolvidos, sem que alguns decidam por todos. Se na colônia Cecília, todos trabalhavam na produção para a satisfação das necessidades, se entre eles a divisão da produção era comunal, se entre eles não havia patrões e nem hierarquias e, se entre eles as decisões davam-se no coletivo, seria então, a colônia Cecília um exemplo de autogestão, ou um germe para tal? Para tanto, será possível também considerar a colônia Cecília um exemplo de democracia direta?
De certa forma, a partir do filme, acreditamos que a experiência da colônia Cecília propiciou a democracia direta e a autogestão, ou ao menos algo que se aproxima muito disso. Visto que em sua organização, social e econômica, a aproximação com ambos os termos é grande, entendemos que a colônia tende a torna-se um germe para os mesmos. Sem patrão, hierarquia, com divisão igualitária da produção, sem especialistas políticos, com participação de todos na produção e nas decisões e, com igualdade na hora de decidir, Cecília tornou-se para o Brasil (e não só para ele) um exemplo de que outras formas de organização social são possíveis.
Se na a realidade que vivemos hoje, a democracia é representativa e a autogestão é quase desconhecida, cabebuscarmos experiências que demonstrem proximidade com ambos os termos, E que sirvam de experiências ações futuras. A partir daí podemos presenciar que democracia não se restringe a representatividade e que a autogestão é possível. Para tanto, não será fácil a superação/subversão desse atual sistema social, é nesse momento que a autogestão vem a contribuir como um projeto para a realização da democracia direta.
REFERÊNCIAS
VIANA, Nildo. Democracia e Autogestão. S.d. Disponível em: www.achegas.net/numero/37/nildo_37.pdf

La Cecília. Direção de Jean – Louis Comolli. Une Co-Production. 01h44min: 00

3 comentários:

  1. Legal o texto, Sian! Com certeza, a Colônia Cecília foi uma experiência importantíssima, mesmo com a sua curta duração, já que após o Brasil se tornar uma república (em 1889), o governo brasileiro considerou que a colônia não tinha legitimidade, pois não tinha escritura válida das terras. Então, veio através de seus oficiais avisar aos colonos que só poderiam permanecer ali mediante a compra das terras. Logo, por falta de recursos financeiros, a colônia se desfez. O importante disso tudo é que ela fracassou não por falta de organização, competência... Somente fracassou porque seria suicídio tentar enfrentar os oficiais e resistir nas terras de forma "clandestina" (segundo o governo).

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  2. Um exemplo de autogestão ou um germe para tal? Quem sabe a fusão das duas coisas. Um exemplo pratico de uma democracia direta autogestionada sim, porem, a experiência se deu em uma pequena colônia, sendo assim um possível germe, um inicio de algo que poderia ter se tornado maior. Infelizmente o resultado não foi sua perpetuidade, e para isso vemos no filme vários fatores, os dois principais são, em certa medida a própria falha na sua auto-organização e posteriormente a intervenção do Estado reivindicando a posse das terras. Mas sim, tais acontecimentos são ricos em conteúdo e nos mostram que sim, há outras formas de organização social e que sim, são possíveis. Vejo a colônia Cecilia como um brilhante exemplo do que você fala meu caro, a forma de democracia que possuímos não é a única existente e não é a única possível. Cabe avaliar as variáveis, sanar os erros e enaltecer os acertos.

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  3. É caro Alegre, temos que por essa semente para germinar, pois se há mais de 24 anos esse modelo deu certo não tem por que não dar certo de novo. Claro que hoje os desafios são maiores, o sistema capitalista esta mais forte a cada dia e as pessoas 'enfeitiçadas', por propagandas na midia, em jornais e no próprio emprego em obter bens superfulos acabam se esquecendo de como vivem aqueles que não tem onde trabalhar, esquecem-se de que o estado nem lembra dessas pessoas que vivem em locais de risco, sem condições básicas. Não podemos nos deixar intimidar por essa submissão e repressão que os representantes de partidos políticos promovem, e nos fazem acreditar que nas proximas eleições se eles ganharem irão fazer o melhor para o bem da sociedade, para o desenvolvimento da cidade, do estado ou do pais.Eu sou da opinião de que se eles realmente se preocupassem com o bem estar de todos, primeiro de tudo não aceitariam salarios tão altos enquanto outros passam fome, não tem onde ficar, não tem direito de frequentar uma escola, e ainda em seus discursos tem a audácia de dizer que todo cidadão tem direito a uma vida digna.. ahhahahahh e o que o cara que tah morando em baixo de um viaduto ele esta lá porque é digno apenas disso?

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