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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Revolução Espanhola e as Democracias: a que vivemos e a que esperamos!

Paula de Marques
Acadêmica do 4º semestre de Licenciatura em Ciências Sociais
UFFS - Campus de Erechim

O filme “Terra e Liberdade” inicia com a neta de um miliciano falecido, vasculhando a maleta que pertenceu a seu avô. A maleta continha cartas, recortes de jornais da época, documentos, um saquinho de terra e um retalho de pano vermelho. Ali são narradas as histórias de muitos homens e mulheres, espanhóis e estrangeiros que lutaram pela concretização de seus sonhos e objetivos. Doaram suas vidas com intenção de construir uma sociedade igualitária, justa e solidária.
Também aponta a traição de Stalin à Revolução Espanhola, mas também demonstra a ingenuidade dos Militantes Comunistas, julgando estarem certos da transformação a qual achavam estar engajados. Inocentes os militantes, sem consciência que estavam a serviço de Stalin que por sua vez, estava aliado ao fascismo.
O longa metragem a apresenta o gênero feminino lutando, atuando na Revolução com igualdade. Ele demostra os traços essenciais para o entendimento da forma socialista da Revolução. Onde que as assembleias de milicianos e camponeses organizados decidem coletivizar os meios de produção. Utilizando uma democracia diferente, uma Democracia através de assembleias.
A película Terra e Liberdade é uma obra de ficção que retrata a Guerra Civil Espanhola na década de 30. Ela aponta uma disputa pelo poder entre fascismo e a Democracia. São duas ideologias que se contrastam: um movimento de resgate da República e outro que busca a transformação no regime político vigente. Esse movimento se fraciona em duas correntes teóricas opostas politicamente, mas que visualizavam a Revolução como aliada para alcançar seus objetivos de uma forma distinta. Uma corrente que perseguia a volta da República e outra corrente que vislumbrava uma transformação na sociedade da época.
De acordo com leitura do artigo: “Democracia e Autogestão”, do professor Nildo Viana, tanto a Democracia Representativa quanto a Autogestão (Democracia de base) são correntes que convergem ao passo que se distanciam uma da outra ao longo da História. A democracia de Base também é conhecida como “Democracia Direta”, a qual se pode fazer alusão ao filme Terra e Liberdade. Onde aparecem os motivos pelos quais se fragmenta a luta pela Democracia.
No movimento da Democracia representativa, os burgueses são representados através da figura do Estado. Já o movimento da Autogestão ou Democracia de Base se faz representar através dos conselheiros operários, como por exemplo, os Sovietes.
O início da Revolução Espanhola em Julho de 1936 deixa transparecer na película a viabilidade de um governo autogestionário. Com armas e com organização dos conselhos agrários e operários, construindo um sistema de troca, que encontra uma maneira de modificar as relações de produção colocada pelo Sistema Capitalista. Os conselhos eram as instituições criadas e integradas pelas pessoas que fazem a “Revolução”.
Em oposição à Autogestão, a Democracia representativa comportava a classe capitalista, os possuidores dos meios de produção (fazendeiro e Industriários, burgueses), que não compartilhavam da ideia de coletivizar as suas propriedades.
O artigo produzido por Viana expõe a visão de vários teóricos a respeito do sistema de Autogestão como Kautsky, Adler, Gramsci, Coutinho, Bauer, dentre tantos pensadores que comungam com a ideia que a Democracia Direta e a Democracia Representativa sejam complementares.
O escritor cita em sua obra outra perspectiva de Democracia, uma Democracia Progressiva. Uma noção que idealiza a convergência, a fusão da Democracia Representativa, com a Democracia Direta.
Togliati & Ingrão apud Viana (s.d.) defendem a dualidade de poderes existentes entre Democracia Representativa e Direta, as quais podem verificar esse movimento de Dualidade no filme através das ofensivas das Forças Republicanas na pessoa do Estado, dos partidos comunista e socialistas (nesse caso, o Estado está contra os conselhos de Trabalhadores).
O sociólogo Viana chama atenção para os discursos de Lenin e Trotsky quanto à dualidade entre os regimes de poder durante a Revolução Russa, verificando que na derrota do poder burguês passaria existir um governo expressamente proletário.
A Democracia que conhecemos de acordo com a percepção de Viana é fruto das revoluções burguesas, que se manifestaram na modernidade perpassando a história. Sendo que a democracia censitária ou moderna estava restrita apenas a quem alcançava os patamares de renda estabelecidos.
Com o resultado das lutas operárias do século XIX, a Democracia passou a organizar-se através de partidos e de ações do Estado. A Democracia representativa da qual fazemos parte, tem como base uma divisão de classes sociais, onde permanecem os explorados e exploradores.
Portanto estamos inseridos em uma Democracia, da qual as desigualdades estão em evidência, mas nada fazemos para mudar este cenário. Estamos acostumados com a servidão que a classe dominante nos impõe desde o momento em que nascemos até o findar das nossas vidas.
Queremos um Estado democrático onde todos tenham pão para saciar sua fome, queremos renda para manter a nossa família. Mas e aí, o que estamos fazendo para que isso aconteça? “Estamos esperando que a revolução surja dos ‘Céus’, que Deus faça a Revolução por nós?”.
Não, se queremos transformações teremos que lutar fazer revolução como os Espanhóis que lutaram, deram suas vidas com o intuito de viver outra Democracia, A Democracia Autogestionária o espaço no qual tudo é todos, todos controlam e partilham os bens de consumo. A democracia é um regime que muitos países ainda hoje sonham alcançar, ou seja, um regime universal. A autogestão nos dias atuais nos parece inviável na sociedade em que vivemos. È uma prática inovadora que não versa com a de Democracia representativa a qual estamos acostumados a viver.

Bibliografia:
VIANA, Nildo. Democracia e Autogestão. S.d. Disponível em: www.achegas.net/numero/37/nildo_37.pdf
Terra e Liberdade (Land and Freedom, 1995). Diretor: Ken Loach. 109min.
SANTILLÁN, DIEGO. Organismo Econômico da Revolução. A Autogestão na Revolução Espanhola. Brasiliense. São Paulo:1980.

3 comentários:

  1. "Portanto estamos inseridos em uma Democracia, da qual as desigualdades estão em evidência, mas nada fazemos para mudar este cenário. Estamos acostumados com a servidão que a classe dominante nos impõe".achei este trecho de uma importancia grande para o artigo,na democracia representativa percebemos e vivenciamos a desigualdade e naturlizamos tais ações na sociedade o que nos torna muitas vezes submissos sim enquanto classe e servos da burguesia.

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  2. Em análise ao seu texto, refletindo com o pensamento de Rosseau que diz que a comunidade corronpe o homem. Para mudar o homem a comunidade tambem deve mudar. Nesse contexto da Guerra Civil Espanhola nos anos 30 que o filme Terra e Liberdade retrata, faz transparecer o pensamento do autor que apesar de existir pessoas espanholas estar lutando por uma sociedade igualitária. Para haver essa mudança é preciso uma mudança tambem em toda a sociedade como conciência da transformação.

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  3. Adorei!!! O texto realça a participação da mulher na luta por uma sociedade igualitária, justa e solidária. Isso é tudo o que queremos! Concordo que em nada fazemos para mudar essa realidade. Continuamos dizendo amém, aceitando as regras do jogo. Mas, acredito que não precisaremos de revoluções, lutas trazem sofrimento e dor. A autogestão não é inviável, está apenas incompatível com o processo democrático atual. As mudanças ocorrem a partir de cada um de nós. O trabalhador deve tomar consciência de que ele não é só um aperta parafuso, mas um agente no processo de produção.

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