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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

DEMOCRACIA E AUTOGESTÃO: ANÁLISE DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA


Por Fernanda May


O presente trabalho tem como objetivo uma tentativa de aproximação do cenário da guerra civil espanhola com uma análise da relação entre democracia e autogestão. Considerando os pontos onde estes elementos convergem e divergem. O texto aponta para características mais especificas da guerra espanhola baseadas no filme “Terra e Liberdade”, que concentra maior ênfase na ação do POUM e na luta entre a frente popular e as forças reacionárias fascistas.

Temos na experiência espanhola um dos grandes momentos da história da autogestão. Apesar de ter durado pouco tempo, nos permite uma compreensão de um governo conquistado e elaborado pelo povo.
Para nos situarmos a respeito desse acontecimento, temos de um lado da batalha as forças populares de esquerda contra as forças reacionárias fascistas de outro. O golpe planejado pelo fascismo tinha como objetivo a eliminação do regime republicano. Muitos estrangeiros participaram dessa batalha, visando o fim do fascismo e a construção de uma nova ordem social.
Como a exemplo do personagem do filme “Terra e Liberdade”, Dave, que sairá de seu país convencido de que na luta espanhola estavam em jogo a liberdade e a democracia do mundo todo, não apenas de um país.
Podemos considerar esse episódio como a experiência autogestionaria mais radical estabelecida e protagonizada pelos trabalhadores. Pela primeira vez os anarquistas têm o poder econômico, político e militar, o monopólio do poder e hegemonia no campo das ideias. Assim se dá inicio a autogestão da produção e dos serviços.
Nesse sentido, cabe agora entendermos de fato, o que é a autogestão, buscando suas correlações e conflitos com a democracia. Apresenta-se a seguir concepções de democracia e autogestão com seus respectivos significados e interpretações. Sabendo da existência dos que consideram uma aproximação bastante significativa entre democracia e autogestão e os que as consideram antagônicas.
A princípio é preciso não confundir autogestão com “participação”, “co-gestão”, “controle operário” e “cooperativismo”, mesmo que todos estes conceitos apresentem características em comum. Dessa forma, no contexto aqui discutido:



A autogestão é uma relação de produção que se generaliza e se expande para todas as outras esferas da vida social. A autogestão inverte a relação entre trabalho morto e trabalho vivo instaurada pelo capitalismo e, assim, instaura o domínio do trabalho vivo sobre o trabalho morto. A autogestão significa que os próprios “produtores associados” dirigem sua atividade e o produto dela derivado. Abole-se, assim, o estado, a democracia representativa, as classes sociais, o mercado, etc., já que com a autogestão abole-se a divisão social do trabalho. Conseqüentemente, abole-se a divisão entre “economia”, “política”, etc. (VIANA, p. 67)


A autogestão assim apresentada pode ser pensada como uma forma de organização das relações sociais de trabalho de forma solidaria e democrática. Todas as esferas da sociedade passam a ser geridas por todos, de forma que todos tenham participação igual.
Para entendermos a democracia é preciso não confundir a democracia que se quer com a democracia existente que surge na modernidade caracterizada pela representação política. Pode-se considerar a democracia moderna como produto do desenvolvimento da luta de classes e do Estado. Esta, portanto, não é a democracia ideal, ou seja, o governo do povo.

A democracia representativa é uma forma sob a qual o Estado capitalista se relaciona com as classes sociais e está envolvida no conjunto de relações sociais desta sociedade (Estado, divisão social do trabalho, mercado, classes sociais, capital, etc.) e não pode ser intelectualmente transposta para outra sociedade, pois não teria nem sequer sentido prático em outras sociedades (qual sentido, base e utilidade teria a democracia representativa numa sociedade feudal ou comunista?). A democracia representativa fora do capitalismo é um anacronismo. (VIANA, p. 69)

Fica claro dessa forma que esse entendimento do que é democracia, esta dentro do capitalismo. Para tanto, podem surgir questionamentos a respeito da fragilidade desse termo empregado em condições contraditórias a sua própria etimologia. A democracia ideal demanda um governo da maioria, ou seja, onde todos tenham direito de participação nas decisões, expressão de seus interesses. No sistema capitalista, onde existe uma visível separação de classes e onde alguns têm maior alcance no poder, se torna quase impraticável uma verdadeira democracia.
Numa tentativa de aproximação da democracia com a autogestão e o episódio da guerra civil espanhola, na medida em que o povo sai as ruas para lutar por seus interesses e buscar uma mudança na forma de organização de sociedade, é por que descontentes com o sistema que nega-lhes os direitos e os faz viver condicionados, querem uma sociedade onde possam ser livres, enquanto cidadãos. Nesse sentido pensar uma democracia, seria pensar uma mudança radical em torno das relações entre governo, ou seja, entre quem governa, e a sociedade. Pensar a autogestão como resolução para o problema, a princípio pareceu possível, no entanto a experiência mostra o quanto é difícil uma organização baseada no trabalho cooperativo, na solidariedade.


Referências:

VIANA, Nildo. Democracia e Autogestão. s/d (mimeo)

LOACH, Ken. Terra e Liberdade. França.

2 comentários:

  1. A colega Fernanda conseguiu abordar o conceito de autogestão, democracia e explicar como o capitalismo esta inserido nesse contexto. No parágrafo final ela consegue discutir esses pontos durante a Guerra Civil Espanhola e demonstrar que os principal objetivo do povo era fazer mudanças, organizar a sociedade e serem cidadãos, mas ao mesmo tempo, o quanto é difícil esta estrutura de autogestão dentro de um sistema de governo maior.

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  2. Pensar e viver a autogestão, realmente não são tarefas fáceis, inda mais se considerarmos a resistência estabelecida pelo capitalismo. A experiência que se deu na Guerra Civil Espanhola, nos serve como exemplo de que é possivel buscarmos outras formas de organização social. Conforme a afirmação da colega, buscar uma democracia em que todos tenham vós e vez é algo complexo, mas não impossivel, ainda se considerarmos as experiências que se deram ao longo de nossa história.

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