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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Por que somos anarquistas?

Vinícius Fruscalso Maciel de Oliveira*


Sinceramente, acreditar na mudança é o que nos move. Os neoliberais dizem que a gente já era, mas como eles mentem o tempo inteiro, como poderia eu acreditar em uma só palavra deles? O que importa para eles é a reprodução desse modo de produção tão custoso à dignidade humana chamado capitalismo, no qual se desvaloriza o ser humano e se quer obter a todo custo lucro e mais lucro.
Como é por natureza inaceitável a exploração do homem pelo homem, necessita-se de um Estado que tenha o monopólio da violência para legitimar a desigualdade social. Mas esse Estado está escondido sob um discurso mentiroso de que trabalha para garantir o bem-estar, a segurança e a liberdade individual de todo cidadão.

Vamos por partes. Bem-estar? Como ele é possível se há uma terrível desigualdade social onde se tem a pior ditadura de todas, a ditadura de mercado? Esse bem-estar só é garantido a uma pequena parcela da população que enriqueceu a custa das classes sociais inferiores. A sede por capital por parte da burguesia não tem limites. Como se pode garantir bem-estar a cada cidadão se o Estado não consegue atender as necessidades mais básicas de cada ser humano (principalmente em países subdesenvolvidos) como saúde, educação e moradia? Sem chance! O capitalismo desumaniza o ser humano. E quando se fala em segurança então aí sim que a coisa piora. A prisão não resolve o problema que lhe é dado, pois ela não consegue fazer com que quem entre lá saia melhor, porque além de ser superlotada e despreparada em sua maioria, já é contraditória por si só.

E o que falar então da suposta liberdade individual? Como tenho eu liberdade individual se existe um bando de policiais esperando um mínimo deslize meu pra me encher de porrada? A liberdade que se fala é novamente só para os ricos! Eles sim podem fazer usufruto dela, já que se tem uma constituição voltada aos interesses das classes dominantes. A idéia de democracia representativa também é uma mentira: a única democracia que pode existir é a democracia direta! Hoje vivemos em poliarquias demofóbicas, onde um grupo de pessoas “dão as cartas” no nosso país (empresários, fazendeiros...) mas no fundo sabem que o povo é um problema para eles. Logo criam mecanismos para entreter, acalmar e acomodar as classes dominadas.

Um dos melhores é via emissoras corporativas burguesas através de reality shows que fomentam de forma subjetiva a concorrência e o individualismo (BBB, A Fazenda...), bem como por uma série de telenovelas que não tem por outro objetivo desviar do povo a atenção para assuntos muito mais significativos como economia e política. E o que falar das trilhas sonoras? Verdadeiros lixos musicais que em sua maioria levam a mensagem: “Que se dane o resto, vou abrir minha cerveja!”, lembrando que esse é o comportamento mais perigoso: o da omissão. A forma como a mídia manipula a opinião das pessoas é visível.

E o que dizer do voto universal? Só serve pra legitimar os parasitas do Estado! É uma verdadeira enganação, já que nem sequer o povo pode depor nenhum dos cargos que ele vota independente da eleição. E mesmo que pudesse, como se tem a certeza de que ele irá cumprir o que prometeu durante a campanha? Ninguém é o mesmo depois que chega ao poder. Como diz Elisee Reclus: “O poder exerce uma influência enlouquecedora sobre quem o detém e os parlamentos só disseminam a infelicidade(...) Votar significa formar traidores, fomentar o pior tipo de deslealdade.”
Mas nós somos diferentes. Acreditamos realmente que se deve lutar por liberdade e igualdade para todos, sem exceção. Não somos da política de votar no “menos pior” ou do “quanto pior, melhor”. Não queremos meras reformas: queremos a revolução. Quando os burgueses saírem desse imenso egoísmo e ver que seu consumismo e busca desenfreada pelo capital só está levando a escassez de recursos naturais e miséria absoluta de centenas de milhares de pessoas, quem sabe seja tarde demais. Nosso papel é acelerar o processo de conscientização: seja com palavras, seja com ações, seja com armas.

Negamos qualquer tipo de governo que não seja o meu sobre mim mesmo: queremos seres humanos autônomos para que sejam livres da tirania do Estado. Negamos qualquer tipo de salário, já que é impossível medir o trabalho e devolver em benefícios para o trabalhador sendo justo.Negamos a propriedade privada, porque ela é um roubo realizado contra o resto da humanidade, sendo que só o proprietário e quem lhe convir poderá fazer o usufruto da terra. Somos contra qualquer tipo de exploração do homem pelo homem, devido a sua conseqüência que é a hierarquia social.
Lutamos sempre pela liberdade de todos os homens, para dar uma vida digna a todos, com liberdade política e liberdade econômica. Lutamos contra a institucionalização de toda forma de poder, seja ele político, econômico ou social.

Sabemos o quanto é difícil a nossa luta. Quando se tem um sistema que permite certa mobilidade social, muito mais árduo é o trabalho de conscientizar e mobilizar o oprimido a lutar contra que os oprime. Ele quer virar opressor! Não é de se espantar, já que todos nós nascemos e crescemos num mundo onde o importante não é o ser, muito menos o ter: o importante é o parecer. Vivemos rodeados de sorrisos falsos e mentiras descaradas, feitas por pessoas sem escrúpulos que visam só o dinheiro no final de cada mês para elas terem mais “status” na sociedade. O prestígio de hoje se dá pela conta bancária, e não pelo conhecimento acumulado em si.

Se vivemos numa época moderna ou pós-moderna eu não sei, mas não gosto do que vejo. Vivemos hoje, como diria Durkheim, numa “sociedade orgânica, onde vemos o outro como meio para chegarmos a uma finalidade desejada”. Será que isso deve ser o objetivo de nossas vidas: acumular capital?

De que adianta existir alta tecnologia e supercomputadores se muita gente vive sem ter o que comer ou o que vestir? De nada adianta o ser humano produzir riquezas em cima de riquezas se essas não forem socializadas com todos. É de um egoísmo e de uma falta de bom senso sem tamanho.
Os problemas ambientais devido a busca do crescimento econômico a qualquer custo deixam o desenvolvimento econômico sustentável de lado, já que ele é impossível no capitalismo.
Certamente, hoje existe alimento suficiente para alimentar a humanidade inteira tranquilamente. O problema não está na produção do alimento e sim na sua distribuição, isso que nos revolta! O detentor do capital, para manter o preço alto de seus alimentos, ou os deixa armazenados por um tempo, ou os joga fora, só para manter seu preço alto!

Isso é ser anarquista: ainda ter a capacidade de se indignar com tudo o que se viu no texto, e principalmente com o Estado e com o patrão burguês que pede fidelidade ao trabalhador, mas que dão meras migalhas em troca!

*Acadêmico do Curso de Licenciatura em História pela UFFS de Erechim - RS

2 comentários:

  1. Grande Vinão, bem expressada a tua (nossa) indignação perante isso, a que eles chamam de sociedade "desenvolvida". Pois digo-lhes, se isso é ser "desenvolvido", HÁ, como queria ser "atrazado", como queria viver em um lugar onde as pessoas realmente sentisem-se parte integrante da sociedade, que elas tivessem a liberdade de escolher, de determinar as escolhas de suas vidas, de acordo com as suas vontades, e não a vontade de outrem. Nos dizem que somos livres, e que nunca antes na história do homem, se viu tanto progresso. Canalhas mentirosos é o que são, pois o unico "progresso" a que vejo, é a de uma parte seleta da sociedade, ao passo que uma grande maioria vive em condições de miséria, submetendo-se a trabalhos degradantes, envergando seu corpo e alma. A esses que dizem-se governates, que dizem-se representantes divinos (de um deus interessado e interesseiro), a todos aqueles que querem nos dominar, botar suas mãos nojentas sobre nós, a todos esses parasitas, ei de expormos suas falcatruas, seus atos e criações que legitimam a exploração do homem pelo homem". Por fim, que possamos atravéz deste blog, e não só com ele, poder contribuir, mesmo que seja com a maneira mais simples, para a destruição deste sistema que a tantas vidas já desgraçou. Um grande abraço a todos,
    saudações libertárias.

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  2. Vinão, meu broder!

    A intenção é boa, a intuição generosa. Não precisamos fingir aqui qualquer suposta neutralidade científica (do tipo juízo de valor e juízo de qualquer outra batatinha). Mas é importante sabermos distinguir os contextos e os momentos do que escrevemos e para quem escrevemos. Ou seja, um panfleto ou um texto incendiário é genial para momentos que desejamos mobilizar as pessoas e promover o debate apaixonado de ideias, mas no atual contexto, e em especial, por nosso envolvimento com um projeto de estudo e pesquisa dentro da Universidade, é razoável, útil e necessário sermos capazes de escrever de um modo mais reflexivo, analítico, e especialmente histórico. Ou seja, temos que fazer um esforço para compreender determinadas circuntâncias socio-históricas e, claro, o contexto e a intencionalidade de pensadores e intelectuais que nos mobilizam como referências para entender/atuar neste mundo!

    Abraços

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